Resenhas

Jacob Perlmutter – Meanwhile, in Rio

Cantor britânico viaja ao Brasil para fazer som saudosista, leve e sempre interessante

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Ano: 2014
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop, Indie
Duração: 46'
Nota: 3.5
Produção: Diogo Strausz

Acontece sempre: Piso em Copacabana e começo a cantar Bossa Nova. Parece que visitar o Rio me evoca memórias construídas pela Cultura Pop sobre o romantismo que a cidade viveu em uma época que meus avós viviam seus romances. E percebo que não sou o único. Enquanto alguns olham pra cidade e veem o Funk dos morros ou o Samba da boemia, há aqueles que enxergam no contorno das orlas e prédios o cenário de um charme convidativo e ora ingênuo, bem como vemos o apaixonar-se sendo contato pelos mais velhos – histórias sobre segurar as mãos pela primeira vez ao tomar um sorvete na praça, por exemplo.

Escutar Meanwhile, in Rio me fez pensar nisso também. Fiquei com a impressão que o inglês Jacob Perlmutter veio ao Brasil para encontrar essas lembranças que o repertório popular construiu nele sobre a cidade e colocar as inspirações em sua música. Em todas as vezes que ouvi o disco, evitei me concentrar na pergunta “Por que gravá-lo no Rio?” (que o coitado deve estar cansado de responder) e preferi identificar endereços, paisagens e fotografias da cidade em sua música.

E ficou a impressão de um refúgio, um lugar seguro para se sentir e divagar sobre coisas que, em casa, seriam difíceis de conversar a respeito. É o cara que, ao invés de ficar no pub da esquina chorando por um coração partido para as mesmas caras de sempre, cruzou o Atlântico para aprender a rir da própria desgraça e, assim, ter uma nova perspectiva sobre os acontecimentos com a praia e o Art Decó ao fundo, com a cerveja na calçada da Lapa e os novos personagens que vivem suas próprias histórias ao seu redor.

Entre eles, Castello Branco, que contribui com mais coração a Kicking Back, colocando a melancolia da língua que tem palavras como “saudade” e “carinho” na musicalidade gringa que tenta achar seu gingado com aquele tal humor britânico irônico e uma enorme nostalgia no som Indie Pop fofinho.

Ao invés de construir caricaturas de uma música brasileira, Jacob deixou-se influenciar como estrangeiro e preferiu trazer os elementos do país tropical (como o berimbau em Pavement Princess) como timbres regulares, não referenciais. E dá pra ver que o produtor Diogo Strausz deu ao cara a chance de conhecer a música propriamente brasileira de hoje, que aparece mais como um espírito de livre criação em algumas faixas do que como influência propriamente dita.

Dessa forma, Meanwhile, in Rio vem não só como um álbum como o conhecemos, mas na ambiguidade de um álbum de fotografias que revelam não só o tempo do músico no Brasil, mas os processos que o ajudaram a voltar pra casa. Para nós, fica um disco leve e Pop, sempre gostoso de ouvir e com detalhes que se revelam aos poucos à medida que lhe ouvimos, trazendo à mente as imagens de coisas que nem nós, nem Jacob Perlmutter vivemos, mas hoje podemos cantar.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.