Resenhas

Baauer – ß

Primeiro EP do produtor conhecido por “Harlem Shake” surpreende e é melhor que seu maior sucesso

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Ano: 2014
Selo: Mad Decent
# Faixas: 5
Estilos: Trap, Bass Music
Duração: 17:00
Nota: 3.5
Produção: Baauer

Existe um filme da metade da década de 1990 que se chama The Wonders – Tudo Por um Sonho cujo título original é o nome da música de sucesso que permeia toda a história do longa, That Thing You Do. Na película dirigida por Tom Hanks, somos jogados à típica história de uma banda que alcança o estrelado através de uma canção, exemplificação dos chamados one hit wonders – artistas de um sucesso somente. Baauer não é alemão, apesar do nome, tampouco o fato de ser dos EUA o configura como uma figura local, pois seu primeiro e único single que explodiu, Harlem Shake, alcançou patamares que Harry Rodrigues jamais imaginaria.

Em todos os espaços de compartilhamento de mídia – Facebook, Youtube, Whatsapp – a faixa aparecia sob a forma de um vídeo que eu não preciso explicar aqui, porque você já o viu inevitavelmente. O problema de uma explosão repentina, inesperada, é que o fogo que o acompanha ou se propaga, ou se apaga. No caso, um single de uma música viral de Trap, permitiu que o produtor tocasse por aí, inclusive no Lollapalooza de 2014, logo, excursões no estrangeiro o deixariam livre para tocar coisas além de Harlem Shake. ß, “ezett” no alfabeto alemão, ou simplesmente o som de dois “s”, é o seu primeiro EP e, como Baauer afirmou, é o reflexo dos sons que ele anda ouvindo.

Mas o o que isso significa? Muito Trap e Bass Music feitos de forma acessível e prontos para serem largados nas pistas de dança. Apesar da obviedade que a popularidade de um estilo traz à Música Eletrônica, em que formatos, gestos e elementos são reproduzidos em larga escala para que se possa nadar na mesma onda, Baauer faz um trabalho conciso em cinco ótimas faixas que o afastam totalmente do estigma de seu grande sucesso. Provavelmente, nenhuma das músicas presentes aqui irão chegar ao mesmo patamar de Harlem Shake em termos de conhecimento alheio, fora de seu próprio meio, mas tampouco isso significa que estamos em desvantagem.

Sinceramente, apesar da viralização da faixa, eu nunca considerei Harlem Shake uma boa música e, em compensação, o trabalho de produção aqui traz o melhor de baixos que se localizam abaixo do nosso consciente de música grave, Bass Music de verdade. One Touch, com participação de AlunaGeorge e o rapper Rae Sremmurd, não nos lembra em nenhum momento o Trap anterior, e isso é ótimo em uma combinanção efervescente e extremamente viciante, que nos lembra artistas como Purity Ring em vocais femininos delicados, mas agressivos, com toques eletrônicos bem pontuados. A outra versão da música, One Touch VIP já nos traz o histórico do produtor, mas com um lado que foge do estamos acostumados em nomes como Major Lazer ou Tropkillaz.

As outras três faixas são perigosas: Floreana é crescente, grave e tensa, uma bela surpresa no ano no gênero, pois procura fugir um pouco de seus clichês para se formar a sua própria maneira; Boog traz vocais sampleados orgânicos. Não sabemos se é uma tribo aborigene, um diálogo urbano desconhecido ou simplesmente um dialeto invertido, mas a sua transição, a partir de sua introdução para uma batida que consegue capturar ferocidade com seus cortes de voz e claps, a torna a mais direta do EP mas muito bem produzida, com capacidade de explodir uma pista de dança. Já Swoopin brinca com o Hip Hop em uma faixa que evidencia o papel do baixo em suas composições e deve agradar quem tem os pés no Dubstep, pois, apesar da falta de seu sintetizador característico, o peso da batida o coloca no mesmo patamar.

O Trap está em alta e as consequências para isso são o excesso de produtores que quererem se aventurar por estas bandas, aumentando a possibilidade de termos vários one hit wonders. No entanto, Baauer mostra-se um dos nomes mais interessantes desta leva de aventureiros. Esqueceu-se do sucesso de Harlem Shake para criar faixas consistentes e menos comuns dentro do gênero, e mostra que pode ser alguém mais interessante do que poderíamos esperar quando se alcança o mundo logo na primeira vez. Seu primeiro EP está entre os melhores pequenos lançamentos do ano e surpreende quem já gosta do estilo, mas principalmente quem torce o nariz para o seu excesso de volume.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tropkillaz, Major Lazer, Diplo
ARTISTA: Baauer
MARCADORES: Bass Music, Ouça, Trap

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.