iamamiwhoami define-se como um “projeto audiovisual”. Essa escolha na rotulação do grupo parece acertada, pois todo seu trabalho é digno de figurar tanto dentro de sites especializados em música (como esse aqui), quanto em outros que optem pela curadoria em vídeo-arte ou artes plásticas (ou mesmo em qualquer plataforma que se encaixe na amálgama de linguagens do grupo). Para se ter uma ideia, toda sua videografia é tão portentosa quanto sua discografia (um material bastante extenso que pode ser encontrado no seu canal do Youtube), e suas parcerias também não são modestas: a produção fica por conta de Claes Björklundand, a direção visual é do coletivo WAVE (que conta com a própria integrante Joana Lee, além de John Strandh e Agustin Moreaux), além do figurino de Mathieu Mirano.
Conquanto sua linguagem seja plural e contemporânea, e suas estratégias enigmáticas de divulgação viral concorram com a produção cenográfica de seus clipes, o ponto de partida para Joana Lee e seu iamamiwhoami parece ser mesmo a música (sua participação cativa em festivais e premiações musicais, além da presença de serviços de streaming exclusivamente musicais como o Rdio dá indícios dessa teoria), embora, é claro, seja quase impossível nos atermos à sua faceta exclusivamente sonora.
Blue, o trabalho deste ano, vem acompanhado de uma série de vídeos que são a materialização perfeita de sua atmosfera. Digo “atmosfera” porque a ambientação e a aposta no aspecto “sensorial” desse “álbum visual” parecem ser o foco do lançamento. Enquanto a música habita o universo alternativo do Synth Pop e etéreo do Dream Pop cheio de sintetizadores e delay, os vídeos fazem uso de metáforas que misturam fenômenos naturais (o mar, a névoa) à intervenção abstrata do homem (os recursos da escultura moderna e contemporânea dão as caras aqui): um aquário de vidro cheio de pedregulhos arrendondados e o aspecto metálico do figurino em contraste com o gelo, são artifícios que apelam à sensibilidade sensorial do púlbico, mais do que o meramente visual ou mesmo musical.
Os critérios para reunir faixas em um álbum parecem vir da mesma dramaturgia presente em sua série de vídeos equivalentes (ou seria o contrário?), mas dentro do cenário Dream Pop, Blue não causa grande furor nem se destaca por qualquer motivo. Contudo, pelo empenho grandioso que abrange a música em conjunção com o vídeo, as artes plásticas, a dramaturgia, a cenografia e suas estratégias de divulgação online, iamamiwhoami merece atenção.
