Resenhas

Wu-Tang Clan – A Better Tomorrow

Decepcionante retorno do coletivo mostra que algumas coisas deveriam ficar intactas na memória

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Ano: 2014
Selo: Warner Bros.
# Faixas: 15
Estilos: Hip Hop
Duração: 66:00
Nota: 2.5
Produção: RZA, Mathematics, 4th Disciple, Adrian Younge, Rick Rubin

Você já teve a sensação ao ver a continuação de um clássico do cinema, como Jurassic Park, Exterminador do Futuro, Meu Primeiro Amor ou Homem Aranha, que as coisas deveriam ter parado por aí? Caso o conceito e as perspectivas não estejam alinhadas, podemos ter uma derrapada de percurso que desaponta os fãs. A volta após sete anos do hiato de Wu-Tang Clan pode ser considerada uma escolha certa, mas muito mal executada. Seminal como Racionais MC’s, mas sem a mesma capacidade de se reinventar, A Better Tomorrow é genérico como sua capa com pontos turísticos do mundo, seu nome clichê “paz e amor” – algo que o coletivo nunca foi – e seu som que tenta emular o passado sem sucesso.

Digo isso porque me sinto decepcionado com o resultado final de tanta espera, nada condizente com o trabalho solo de Ghostface Killah, as participações especiais de Raekwon em diversos discos de Rap ou as aventuras heterodoxas de RZA, como a feita em um disco de James Blake. Nada do que foi feito individualmente parece aparecer por aqui, tirando as referências de quadrinhos na horrorosa Necklace, semelhantes aos personagens criados por Ghostface. As batidas não convencem, o fluxo de rimas parece servir para se encaixarem somente ao tempo da música e nada se conecta na ideia de um coletivo – a sensação é de que cada membro tem o seu momento para rimar de acordo com um sample questionável escolhido sem nunca formar o conceito de clã que constituiu sua história.

Tanto tempo para lançar o sexto disco da carreira do coletivo é refletido em seu resultado final, pois as coisas não se encaixam e os conflitos entre RZO e Raekwon a respeito da condução do trabalho se mostram bastante residuais. Mistaken Identity, faixa em que temos praticamente todos os membros rimando, poderia ser o nome do álbum, pois, de história, não temos praticamente nada aqui. Aliás, essa música mostra um dos refrões sampleados mais preguiçosos entre toda a sua discografia, um fênomeno comum em A Better Tomorrow. 40th Street Back/We Will Fight tenta se prender tanto ao passado, como se estívessemos nos anos 1990, que a sua própria produção parece datada. Monótona e com um refrão mais baixo que todos os versos anteriores, o canto da vitória parece um cochicho.

Tenta ser mais pesado em Hold The Heater com um Gangsta Rap dos anos 2000 que poderia estar presente no disco de Run the Jewels, o que traz um certo alívio para a nostalgia tediosa que percorre o resto da obra. No entanto, são poucos momentos em que as coisas realmente mostram que valeu a pena, em seus 22 anos de carreira, lançar um novo álbum. Exceções como Crushed Egos, quase que uma música perdida da carreira solo de Ghostface Killah ou Keep Watch, dançante mais R&B e com a participação de Nathaniel, cantor com o mesmo timbre de voz de Frank Ocean.

Mas, na maioria dos casos, temos uma emulação do passado conservadora, feita para agradar os fãs mais antigos mas sem chamar atenção em momento algum, como Ruckus in B Minor ou Pionner The Frontier – esta, puro peso de RZA. Entretanto, outros estão dentro das piores composições do coletivo: Miracle é uma balada extremamente piegas com uma introdução à lá musical da Disney, Preacher’s Daugher, com um sample da famosa faixa de Dusty Springsteen, é um deslize total, enquanto a faixa-título é uma chuva de clichês em versos que falam sobre o mundo e o que pode ser mudado com, voilá, um sample da clássica Wake Up Everybody de Harold Melvin & The Blue Notes.

Ao ouvir A Better Tomorrow, a faixa, temos a conclusão sobre o resultado final do disco – a prova de que Wu-Tang Clan deveria permanecer pelo menos mais um tempo no hiato para que não tívessemos que nos decepcionar com um álbum feito para agradar aos fãs mas que se encaixa em poucos momentos. A verdade é que, como coletivo, neste momento, as coisas não fluem como os rumos traçados individualmente por cada um: as batidas aqui não cativam, os versos são óbvios e o resultado final abaixo do que poderíamos imaginar deste retorno. A sensação como um todo é que a obra só chama atenção por ser feita pelo famoso coletivo, em um dos trabalhos mais medíocres de Hip Hop do ano e de sua carreira.

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BOM PARA QUEM OUVE: Hó Mon Tchain, Racionais MCs, Emicida
ARTISTA: Wu-Tang Clan

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.