Resenhas

Gorgon City – Sirens

No LP de estreia, duo londrino sai do anonimato e reiventa o estilo

Loading

Ano: 2014
Selo: Black Butter Records/Virgin EMI
# Faixas: 13
Estilos: Deep House, House
Duração: 50"
Nota: 4.5
Produção: Kye Gibbon e Matt Robson-Scott
SoundCloud: /tracks/159630595

50 minutos foram suficientes para consagrar de vez Gorgon City. O duo londrino que vinha fazendo bonito desde 2012, com The Crypt, e Real, do mesmo ano, lança agora seu primeiro álbum de estúdio. Sirens não parece estreia, não é brincadeira de menino nem álbum de artista promissor. O trabalho entra pra história do gênero, reinventa o estilo e tira, de vez, Kye Gibbon e Matt Robson-Scott do anonimato.

Com treze faixas completas e sem firulas, Sirens tem coerência e, justamente por isso, destoa por completo do que vemos na maioria de trabalhos no mesmo estilo. Aqui falamos de amor, na maioria das vezes, em uma visão real, nada platônica, tocável, sincera e completamente possível. Faixas como Ready For Your Love, vocalizadas pelo calouro – e ainda menino de 19 anos – MNEK, discorrem a possibilidade de um novo começo, o fato de se sentir preparado depois de tempos difíceis. Da mesma forma, Coming Home, que é o abre-alas, demonstra um buscar de forças e encontrar no consolo de alguém.

É raro encontrar resquícios de individualidade em todo álbum. O que facilmente denota uma vontade de aproximar a história das faixas do próprio público, buscar uma conexão mais afetiva, entrelaçar os sintetizadores através das emoções e, pelo menos nisso, Gorgon City não pecou em nenhum sentido. Ouvir Sirens é como navegar no que temos de mais bem trabalhado no Pop, porém com uma técnica bem mais acentuada e estruturado no Deep House. O vocal aqui é prioridade e, por conta disso, foi escalado um time forte de colaboradores para que fosse possível construir atmosferas certas para cada canção. O resultado disso? Katy B, Maverick Sabre, MNEK, Laura Welsh, Erik Hassle e a ganhadora do Oscar Jennifer Hudson.

Falando nela, Go All Night foi uma das primeiras a ganhar vídeo justamente por ter um ritmo mais festeiro. Seu teor menos sentimental (em relação às demais) deu liberdade para criar uma estrutura mais comercial, o que tornou a canção um pouco menos interessante. Mas isso não tira, de forma alguma, os tesouros que ali permeiam. Here For You, docemente entoada por Laura Welsh, foi fortemente trabalhada pelo duo, assim como Imagination, de Katy Menditta e a melhor do álbum (e talvez uma das melhores do ano) Unmissable, de Zak Abel. Existe um elemento que une as três faixas e que faz com que Sirens seja o resultado da criação de uma identidade própria.

Todas elas, além de extremamente bem trabalhadas com sintetizadores grooveados, estrutura marcada, melodia chamativa, trabalham com quebra para espaço de refrão, tudo sob regras e padrões aceitos do House, fazendo uso de instrumentos orgânicos (pianos e sax) e lirismo comovente (“oh let’s make it unmissable? / No no no no no no, don’t tell me that you’re leaving!”, “We all go through changes, run to different places that doesn’t mean that we have to part. And when you feel like nobody’s on your side, please believe I’m never too far”). Resgatar a verdadeira emoção em uma fase em que tudo parece tão mecânico e artificial soa como um suspiro.

Tudo soa leve, como se o Pop no Deep House já fosse sensação há muito tempo. Gibbon e Scott souberam trazer a sinceridade que faz com que essa impressão seja completamente natural. Todos nós sabemos o quão difícil é pegar tendências e conceitos e transformar em comercial, em rádio, em indústria. Sirens já nasceu no pódio. É uma daquelas obras que funciona no verão, funciona nos clubs e ainda funciona contigo sozinho no trânsito.

Em 2014, Gorgon City não fez simplesmente um álbum. O duo aproveitou que foi um ano que a música eletrônica ganhou vários adeptos graças a EDM e criou uma forma de aproximar e tornar o Deep House mais palatável a essas pessoas. Aquele Deep House cheio de elementos do Jazz, porém com discursos e falas, loops e sintetizadores mornos cada vez mais fica para aquela cena underground. O Deep House é o gênero que vai estourar em 2015 e esses londrinos vão inspirar uma nova leva. Gorgon City foi o suspiro de 2014.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Duke Dumont, Disclosure
ARTISTA: Gorgon City
MARCADORES: Deep House, Ouça

Autor:

Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King