Resenhas

Gaz Coombes – Matador

Segundo álbum de ex-Supergrass usa timbres eletrônicos e mostra maturidade

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Ano: 2015
Selo: Hot Fruit
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Pop Alternativo, Eletrônica
Duração: 38:44min
Nota: 3.5
Produção: Gaz Coombes

Talvez você não lembre, mas Gaz Coombes surgiu para o mundo no primeiro clipe de sua finada e sensacional banda Supergrass, descendo uma colina numa cama e cantando Alright. Este singular evento fez com que tudo adquirisse mais sentido naquele ano de 1995 e, apesar dos sujeitos parecerem pós-adolescentes, sua banda era bastante séria e afiada. Supergrass existiu entre 1993 e 2010, durando dezessete respeitáveis anos, simbolizados por seis consistentes álbuns. A sonoridade era uma espécie de cruzamento entre o vigente Britpop e algo de uma sonoridade mais moleca e pesada, com resultado semelhante aos contemporâneos irlandeses do norte do trio Ash.

Gaz Coombes, líder, vocalista e compositor da banda, logo encaminhou sua carreira solo e, dois anos após o fim de Supergrass, lançava seu primeiro (e relativamente decepcionante) álbum Here Comes The Bombs. A pouca repercussão do disco causou desconfiança nos fãs e no próprio Gaz, que voltou com fome de bola para este segundo trabalho. De cara, a primeira diferença está na abordagem musical, totalmente influenciada por sonoridades eletrônicas setentistas e noventistas, conferindo profundidade maior aos arranjos e servindo como uma eficiente moldura para as letras do rapaz, angustiadas e reflexivas, algo bem diferente da imagem inicial da sua antiga banda, que, na verdade, também tornou-se meditativa em álbuns como Supergrass (1999) e Road To Rouen (2006). Agora, perto de completar 40 anos, Gaz está imerso em questionamentos e contemplando a passagem do tempo, tema vigoroso para qualquer artista, em Matador.

Canções belas e bem feitas como Buffalo são sempre bem vindas, com piano grandioso, batidas subterrâneas e bem calcadas no crossover de Pop e Eletrônica dos anos 1990 e uma pitada sutil de Krautrock, com tudo funcionando a favor. Em seguida está o multicolorido single 20/20 com grande performance vocal de Gaz, em meio a teclados saltitantes e batidão lento e dolorido que deságua lindamente numa levada acrílica. The English Ruse, com um andamento mais rápido e elementar não tem pudores em parecer quase um rascunho de gravação, mas a simplicidade é intencional e joga a favor do contexto do disco. A melhor canção desta leva chega agora, com a bela e plácida The Girl Who Fell To Earth, que tem violões acústicos entrelaçados com percussão sintétiza, teclados emulando cordas como pano de fundo e um feliz clima de passeio no parque à tardinha. Detroit é a próxima parada no percurso sonoro, misteriosa e com ares de canção feita para a estrada, também não faz feio.

Acordes trôpegos de guitarra abrem o baticum com teclados marcantes que permeia a levada de Needle’s Eye, que parece algo que New Order poderia fazer hoje em dia. Seven Walls já mergulha numa progressão lenta de efeitos, com voz sofrida e vindo de baixo, prepara o ouvinte para a confusão da própria vida moderna que dá estofo a Oscilate, com uma batida eletrônica eletroacústica que poderia estar num álbum recente de [Radiohead]() ou mesmo de Thom Yorke. To The Wire também é soturna e se vale de percussões angulosas e esquisitas, levando até Is It On, uma vinheta sintética de 50 segundos, chegando na última canção do álbum, a faixa título, solene e ampla, resumindo bem o clima do disco, balanceando satisfatoriamente suas alternâncias e tonalidades e com final abrupto para surpreender o ouvinte mais distraído.

Este segundo álbum de Coombes o credencia finalmente para pleitear novo lugar em meio a gente de sua geração que ainda rende bons momentos musicais, caso de Noel Gallagher e Damon Albarn. Gaz tem ambição e talento, e acertou ao lançar mão de uma música eletrônica elegante e novidadeira, ainda que não seja exatamente original. Bom disco.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.