Resenhas

Alasdair Roberts – Alasdair Roberts

Décimo álbum do cantor e compositor escocês pisa fundo na tradição Folk britânica

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Ano: 2015
Selo: Drag City
# Faixas: 10
Estilos: Folk, Folk Rock , Folk Alternativo
Duração: 41:02min
Nota: 3.5
Produção: Sam Smith

Alasdair Roberts é um cantor, compositor e violonista escocês. Nos anos 1990, ele fez parte de um grupo chamado Appendix Out e partiu para a carreira solo em 2000, quando lançou The Crook In My Arm, seu primeiro trabalho. Desde então são dez álbuns que seguem dois objetivos simples: contar crônicas do cotidiano sob o ponto de vista da figura do storyteller clássico e típico do Folk e conseguir gravar canções dentro de álbuns com um clima que não deixe o ouvinte pensar que está em algum lugar no tempo além do início do século 20. Tais predicados estão longe de ceifar os atrativos auriculares para os desavisados transeuntes que se depararem com a obra do rapaz.

Este é seu primeiro álbum homônimo, dando a entender que, só agora, Alasdair resolve fazer um trabalho voltado para si mesmo. Nada disso. É a boa e velha fórmula que norteia o próprio Folk, a de cantar enquanto conta o que vê e deve ser visto por quem você tem laços. Com o approach retrô dos arranjos dele, que são calcados no violão e em floreios instrumentais esparsos, obtidos com sopros e pianos ocasionais, além de um quarteto vocal, dando a impressão de estarmos numa caravana de saltimbancos pelas charnecas escocesas atemporais e, ao mesmo tempo, ligando nosso tocador de mp3 num cabo de fibra ótica rapidíssima, tudo junto, como uma boa obra de arte atemporal deve ser. Para reforçar esta sensação, o rapaz voltou à sua Glasgow natal, adentrando o Green Door Studios, no qual se valeu de equipamento analógico e todo um clima de dobra temporal. A ideia de confusão com um tempo ido se faz presente até nos títulos de algumas canções, que se valem de expressões e termos fora de uso, como The Final Diviner ou The Mossy Shrine. Tudo isso seguindo a tradição Folk da Velha Ilha.

São pequenos contos de gente que poderia viver em qualquer tempo, como descrito na plácida faixa de abertura, The Way Unfavoured, com pequenas flautas pontuando aqui e ali e violão intrincado. Honour Song também tem sopros marcantes mas o destaque aqui é a capacidade vocal de Roberts, que varia lindamente de volume, impostada e solene. The Problem Of Freedom também é canção de paisagem, de olhar para as pessoas na rua – qualquer rua – e imaginar o que estão pensando. Artless One segue o mesmo caminho, com Alasdair cantando como se estivesse numa praça medieval. Hurricane Brown é declamada, lírica e leve. A grande habilidade ao violão por parte de Alasdair surge imaculada na bela levada da já citada The Final Diviner, com ritmo e leveza simultâneas. O mesmo pode ser dito da instrumentação de In Dispraise Of Hunger.

O trio final de canções reforça o sentimento de passeio pelo tempo, começando pela emblemática The Mossy Shrine, que parece cantada do fundo de uma floresta da zona temperada, abrindo caminho dentro da mata para The Uneven Thing, a canção na qual Alasdair se mostra mais intencionalmente frágil e vulnerável, chegando a tradicional Room Full Of Relics, que mais parece uma canção tradicional, tamanha a leveza das partes de sopros e da simbiose natural alcançada pelo canto e pelo violão de Roberts.

Se você é amante do Folk tradicional, não pode esperar um único segundo para ouvir essa mensagem temporal multifacetada que é o novíssimo trabalho de Alasdair Roberts. O complicado vai ser voltar depois.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.