Um recurso artístico utilizado para recriar os sonhos, popularizado pela escola de pintura surrealista, é o de reunir imagens díspares e temas desconexos em um mesmo contexto. O estranhamento causado por imagens que, a princípio, não fazem sentido, atrai nossa atenção para um novo universo mágico. Frases soltas, ritmo arrastado e elementos surpreendentes podem ser vistos nos melhores exemplos do gênero, tanto nas pinturas de Salvador Dalí quanto nos filmes transcedentais do diretor americano David Lynch.
Uma série de elementos experimentais podem ser vistos em Sauna, o sétimo álbum do produtor e inger-songwriter Phil Elverum com seu projeto Mount Eerie. Todavia, embora seja possível detectar a influência de outros artistas ou escolas específicas, Sauna não consegue, dada a falta de coesão de suas faixas, criar seu próprio universo onírico.
Não existe uma linha clara que define o que é Sauna, senão, é claro o experimentalismo e a recorrência do tema “sonho”, o que nos deixa com a impressão que as doze faixas do álbum são células criadas de improviso e anacronicamente (intuição que se reforça diante de uma faixa instrumental chamada (Something) dentro do trabalho). Existe algo de grandioso nos drones de Pumpkim e da faixa-título Sauna, algo de Shoegaze em Turmoil, um flerte com os violões Folks pincelados pontuadamente em Youth, mas nada que se aproxime da sensibilidade reclusa de S. Carey ou mesmo do Post-Rock encorpado de Explosions in the Sky.
Distante de uma linha que faça sentido para o ouvinte (mesmo que seja ela assumidamente desconexa), Sauna pode ser desfrutado em camadas, como uma trilha sonora arrastada de um sonho (mas não como um sonho em si). Embora não se garanta como um álbum, Sauna, dentro da vasta discografia do prolífico Mount Eerie, parece ser mais etapa de uma longa jornada musical, fazendo sentido cronologicamente e visto dentro de um quadro geral da obra do produtor.
