Logo que soube que o título do segundo álbum de Jair Naves seria Trovões a Me Atingir, imaginei uma obra tão ou mais tempestuosa que sua antecessora, E Você Se Sente…, além de um paralelo automático de “trovões” com a voz do músico. Já ao final da primeira audição, contudo, tive a impressão da tal calma antes da tempestade sendo interrompida por esse que é um dos maiores sons da natureza.
A força que Jair já demonstrou como compositor, cantor e intérprete está presente em cada momento do disco. 5/4 (Trovões Vem Me Atigir) traz seu característico vocal no refrão, por exemplo, e Resvala abre o registro com o mesmo impacto de Pronto pra Morrer em seu trabalho anterior. Porém, quanto mais escutamos este, mais sua identidade única se revela, com mais diferenças que semelhanças do que o público de um artista, ainda que em nível inconsciente, esperem de um segundo lançamento.
Tem muito a ver com a própria dinâmica em que o álbum foi feito. Viabilizado por financiamento coletivo, ele foi todo construído no estúdio ao lado da banda que acompanha Jair e vários convidados (Bárbara Eugênia, Camila Zamith (Sexy Fi) e Hélio Flanders) são só alguns deles). O fator do tempo com que tudo foi executado pode ser sentido nos arranjos e na interpretação de todas. Elas são menos urgentes e com um poder que cresce aos poucos. Se E Você Se Sente é teatro, Trovões é literatura.
Falando nisso, as letras mostram-se novamente uma das principais qualidades de Jair como músico – algo visto desde Prece Atendida, faixa que antecedeu o lançamento do disco. Seu tom confessional e narrativo está sempre presente, ainda que o volume de sua voz esteja mais baixo, misturado ao som dos outros timbres, o que constitui uma identidade sonora própria do álbum dentro da forma com que ele foi concebido.
Ouvir Em Concreto e B., duas faixas tão diferentes e tão próximas no disco, ajudam a reforçar o respeito que Jair vem conquistado através dos anos, argumentando naturalmente todos os motivos para o músico ser tido como um dos grandes destaques de nossa geração – o que, querendo ou não, costuma mesmo ser o propósito de um segundo álbum. Trovões faz isso com louvor e revela a bonança da carreira do artista e, com ela, da música brasileira contemporânea como um todo.