Ouvir I Predict A Graceful Expulsion dá uma impressão de se estar perdido no tempo. Durante os mais de 36 minutos da obra, é como se fôssemos transportados para uma época diferente em uma viagem embalada pela bela voz da canadense Al Spx e que nos conta histórias sobre amor, esperança, culpa e, sobretudo, angústia. A ambientação musical nos conduz a tempos distantes – a mistura do Soul, Folk, Blues e Gospel cria algo tão fora de nossa realidade que o sentimento de nostalgia, mesmo para quem não viveu a época, é inevitável.
Spx assume o pseudônimo de Cold Specks em seu primeiro trabalho e traz essas diversas influências em uma instrumentação simples, porém com uma sonoridade rica. A última faixa do disco, Lay Me Down, mostra um pouco dessa mistura: a simplicidade e o lirismo do Folk, o Soul em sua voz e os coros da música Gospel se juntam em uma belíssima música. Grande parte das faixas tem o violão como base e outros instrumentos de corda ocasionalmente aparecem, como em Heavy Hands, na qual ajudam a criar o clima denso da música.
A poderosa voz de Spx se destaca como principal elemento do disco. Mais que letras e arranjos, o vocal com pegada do Soul da moça é o que mais chama atenção. Como algo entre Nina Simone e Stevie Nicks, sua interpretação ganha ainda mais força em faixas como Holland e Steady, nais quais a instrumentação simples deixa sua voz imergir e brilhar ainda mais. As alusões religiosas do disco vem encobertas de certa sombra, como se viessem do pesar em um funeral, e trazem consigo uma sensação de desespero ao tratar do tema, como em Blank Maps.
I Predict A Graceful Expulsion é um daqueles discos que em que se mergulha profundamente e se perde a noção do tempo – não só do que decorre durante sua audição, mas também a noção da época em que ele se encaixa e a impressão de que ele está deslocado do cenário atual. É exatamente esta sensação de deslocamento que faz deste um bom disco e uma bela estreia de Cold Specks.