Resenhas

Public Service Broadcasting – The Race For Space

Segundo álbum investe no retro-futurismo e tem Corrida Espacial como tema

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Ano: 2015
Selo: Test Card Recordings
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônico, Dance Alternativo, Rock Alternativo
Duração: 43:23min
Nota: 4.0
Produção: J. Willgoose, Esq

Já se vão 18 meses desde o lançamento do primeiro álbum, Inform-Educate-Entertain, no qual a dupla formada por J. Willgoose, Esq e Wrigglesworth estabeleceu seu espaço. Na verdade, não há nada semelhante à proposta audiovisual de Public Service Broadcasting no planeta e seu mix de filmes de propaganda estatal de meados do século 20 com Rock alternativo eletrônico para as massas é, de fato, quase irresistível. Com o sucesso veio a percepção por parte da dupla que seria possível manter-se neste caminho sem que fosse necessário abrir mão de algum detalhe. O resultado vem agora, neste segundo trabalho, The Race For Space. Se a estreia em disco monitorava as transmissões da BBC no período da Segunda Guerra Mundial e logo após, neste novíssimo e conceitual álbum, PSB visita o maravilhoso período da Corrida Espacial.

Para quem anda faltando às aulinhas de História, o período entre 1958 e 1975 foi conhecido por este nome, tempo em que Estados Unidos e União Soviética disputavam feitos e conquistas no desenvolvimento da capacidade humana de viajar e explorar o espaço sideral. Era uma faceta, digamos, agradável do que se entendeu por Guerra Fria, quando os dois lados, usando do máximo possível de propaganda e recursos, procurava estar à frente do outro, a qualquer custo. Esta montanha russa (sem trocadilho) de eventos é trazida via samplers para a música de PSB. Novamente contando com a boa vontade do British Film Institute, a dupla teve acesso a todo um manancial de discursos e informações privilegiadas, utilizadas com gosto nas novas criações musicais deste álbum.

Um grande triunfo neste segundo disco é a utilização dos discursos de forma mais, digamos, orgânica. A abertura com a faixa título é uma declaração de intenções, na qual efeitos esparsos, mas épicos, servem de moldura para as palavras que anunciam os lançamentos dos primeiros foguetes. O clima de mistério ainda permanece em Sputnik, mas, aos poucos a parafernália musical vai vencendo a briga com os discursos e trechos falados, para imprimir um ritmo próprio, privilegiando cascatas de teclados e uma visão mais plácida de canção. Todo o hipotético esmero em criar uma trilha sonora para a epopeia espacial cai adoravelmente por terra na terceira faixa, o single Gagarin. Em meio a informações bibliográficas sobre o cosmonauta soviético Yuri Gagarin, a dupla ergueu uma fortificação Jazz Funk no melhor estilo Daft Punk, com linhas de metais sintetizados e bateria implacável, tudo a serviço da dança em sentido amplo. Fire In The Cockpit traz uma senhora mudança de clima, passando da euforia da canção anterior para uma atmosfera de suspense e temor pelo pior, diante de um acidente no vácuo, que realmente aconteceu na Missão Apolo 8.

Mais uma alteração de rumo vem com a faixa seguinte, E.V.A, abreviação de Extra-Veicular Activity, ou seja, o tradicional passeio no espaço, curiosamente musicado por uma base de bateria nervosa, guitarras levemente funkeadas e uma sonoridade que lembra as pesquisas recentes de Daft Punk no início dos anos 1980. O mesmo espírito permeia a canção seguinte, The Other Side, só que de forma mais sutil. A parte instrumental acompanha a narração da Missão Apolo 11 em sua aproximação do chamado lado escuro da Lua, poucas horas antes do pouco. O tratamento épico é perfeito mas não acontece de forma convencional, o que valoriza a ação da dupla. A presença dos vocais de The Smoke Faeries em Valentina pouco acrescenta à canção, mas não chega a comprometer o resultado final, preparando o terreno para as duas canções finais do disco: a apressada e aerodinâmica Go e Tomorrow, com direito a surpresa no fim.

Ainda que The Space Race não repita totalmente a espontaneidade e, sobretudo, a novidade do primeiro trabalho, podemos ver que a dupla encontrou uma marca musical, algo cada vez mais raro em nossos tempos. Vamos ver se os rapazes se saem bem na criação das variações sobre este mesmo modus operandi musical e como vão se inspirar daqui pra frente. O desafio do segundo disco foi concluído de forma pra lá de satisfatória.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.