Resenhas

Swervedriver – I Wasn’t Born To Lose You

Banda inglesa retorna após 17 anos com disco atual e cheio de guitarras

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Ano: 2015
Selo: Cherry Red
# Faixas: 10
Estilos: Guitar Rock, Rock Alternativo, Shoegaze
Duração: 48:49
Nota: 3.5
Produção: Adam Franklin

Pessoal, anotem um postulado em seus cadernos de entendimento e compreensão da música Pop: para se manter vivo neste mercado maluco e volátil, o/a artista/banda precisa ter uma malandragem. Não se trata de enganar o público, mudar de estilo loucamente, trapacear de alguma forma, pelo contrário. No caso do grupo inglês Swervedriver, a grande sacada foi iniciar as atividades no meio do discreto estouro das bandas Shoegazer em fins dos anos 1980 e perceber que tal estilo comportava alguma aproximação com elementos Pop, sem que isso descaracterizasse totalmente os preceitos guitarrísticos originais. Mais que tudo: perceber que essa nova sonoridade comportava alguma semelhança em relação ao que grupos americanos como Dinosaur Jr vinham criando em suas garagens. Resultado: mesmo não tendo o prestígio de formações como My Bloody Valentine ou Ride, Swervedriver manteve-se vivo e bem ao longo dos anos 1990, interrompeu atividades no início do milênio e volta agora ao disco, depois de retornar à estrada.

Talvez por isso que I Wasn’t Born To Lose You não faça qualquer esforço para soar moderno ou atual. As mentes dos integrantes-fundadores do grupo, os guitarristas e vocalistas Adam Franklin e Jimmy Hartridge pensaram no que sempre fizeram de bom, ou seja, canções ganchudas, enguitarradas, fluidas e com vocais que vêm e vão dos holofotes principais, num harmonioso balé com as guitarras, deixando para baixo e bateria um papel levemente coadjuvante. É a mesmíssima fórmula do início da carreira, trazida de volta como um novo ciclo musical que pode se estabelecer, uma redescoberta ou reinterpretação, vá saber. O que importa é que o álbum tem dez canções na medida certa para despertar paixões em neófitos e trazer algum acalanto para corações noventistas, saudosos daqueles momentos de contemplação de possibilidades do futuro ao som de guitarras ruidosas mas cimentadas por harmonia e beleza.

Dá prazer ouvi-las apitando em meio a vocais celestiais na parte final de Everso, a quinta faixa de I Wasn’t Born…. A melodia se comporta como se estivesse escoando pelo ralo e tentasse permanecer, para isso há várias pequenas reviravoltas e recrudescimento do ataque guitarrístico aqui e ali, mas nada de barulho extremo ou algo que incomode os ouvidos, a noção de melodia está sempre presente. Outro bom exemplo disso é o single Setting Sun, conduzida por uma levada elegante em média velocidada, toda pontuada por fraseados de guitarra que parecem se dobrar em si mesmos, com simplicidade e eficiência. As vozes de Franklin e Harttridge surgem como se saíssem da água de uma lagoa, indo e vindo, como já dissemos. E quando você pensa que a canção irá além dos seis minutos, ela termina antes dos três, e tudo faz sentido.

Red Queen Arms Race é exemplo de que Swervedriver também pode temperar a melancolia ensolarada de suas canções com um pouco mais de peso, enquanto Deep Wound mostra a alternativa de pegar as guitarras e levá-las para passear nos terrenos de uma sonoridade Pop Rock que lembra bastante os primeiros – e bons – trabalhos de Foo Fighters. O encerramento, com I Wonder é a medida certa das possibilidades sonoras da banda, com 5:40min de elipses e pequenas bolhas melódicas e vocais que sobem e descem em velocidades diferentes, com o destino final anunciado pelos turbilhões noise -mas-delicados que surgem no horizonte.

O novo álbum de Swervedriver, o primeiro em 17 anos, é mais que a retomada de sua sonoridade, mas uma espécie de “reinvenção sem mudanças”, como se, simplesmente, a banda tivesse ficado apenas meses sem gravar. Suas canções têm frescor e novidade, com cara extremamente noventista e talvez seja isso que algumas formações atuais necessitem: influência, novas sonoridades nunca antes ouvidas, tudo novo como sempre. Belo disco.

Swervedriver – Setting Sun

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.