Chavoso é o melhor nome que Sants poderia ter dado a este seu curto EP de três faixas. Com muita malemolência, ele coloca os estilos estrangeiros pra conversar com a pulsação do underground brasileiro, dos clubes ao morro – e não é isso o que a melhor música do país sempre fez?
A faixa título abre o disco em sua função de ditar o clima para as duas próximas, algo feito na construção de uma atmosfera urbana e complexa, sem se perder em dezenas de camadas. Dá pra sentir de cara seu bom gosto pelos timbres e pela maneira de conduzir o ouvinte a uma jornada completa, que se encerra em menos de três minutos.
Bico dá uma continuidade natural a isso – até porque parece ser uma espécie de continuação da anterior (ou lado-B, se preferir). Mais tensa, entretanto, ela marca presença sem precisar fazer muito barulho. A transição entre essa e a próxima, com as vozes dos vendedores ambulantes, traz um referencial geográfico dos nossos centros urbanos que consegue ampliar os significados e causar um sorriso no ouvinte ao lembrá-lo que não só esse som é feito no Brasil, mas que esse estilo tem tudo a ver com a vibração das nossas cidades.
A dinâmica entre os elementos das faixas fica ainda melhor em Pilaco, a última do EP. Ela vem mais tensa, com uma melodia que ganha mais espaço à medida em que a música avança no tempo. É interessante notar que nenhuma delas ultrapassa a marca dos 3 minutos e meio – a duração de um hit certeiro -, lembrando que a música marginal pode ter ainda mais em comum com a publicada pelas vias ditas principais.
Chavoso vem como um adendo muito positivo ao portfólio de Sants, um artista que consegue esbanjar a brasilidade urbana contemporânea sem cair nos lugares comuns e, principalmente, sem a atitude coxinha de tentar ser gringo. Ponto pra ele.
