Resenhas

Kaki King – The Neck Is a Bridge to the Body

Álbum faz parte de um universo maior, que conta com clipes e efeitos luminosos ao vivo

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Ano: 2015
Selo: Short Stuff Records
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Instrumental, Experimental
Duração: 43:46
Nota: 3.5

Este disco é só uma parte do todo que forma The Neck Is a Bridge to the Body. Originalmente, a obra foi pensada como multimídia, agregando, além do som, imagens. Kaki King desenvolveu-a com uma junção desses dois mundos tão complementares, criando um vórtex artístico que culminou nestas onze faixas, além de alguns vídeos e apresentações ao vivo usando belas projeções e luzes. O que eu vou resenhar aqui é só parte desta obra, a sonora. Sendo assim, ela se torna incompleta sem seus outros componentes, porém digna de uma análise mais aprofundada, levando somente este aspecto em consideração.

Se você acompanha o trabalho de Katherine Elizabeth King, sabe que suas obras ficaram nos últimos anos cada vez mais ambiciosas. Desde sua estreia em 2001, seu virtuosismo e capacidade de se inovar alçaram-na a ser considerada como uma das melhores violonistas de nossa geração, nomeação que faz jus ao seu talento, mas que pode fazer o ouvinte questionar sua parte criativa. Se esse é seu primeiro contato com a artista, ele é perfeito para responder essa questão quanto à criatividade da moça.

The Neck Is a Bridge to the Body é uma obra múlticromática que mistura elementos do Jazz, Shoegaze, Rock Alternativo e Música Latina como se esses já tivessem nascidos destinados a algum dia se encontrar. A fluidez e fruição musical de King fogem dos parâmetros do comum para se mostrarem como aquele algo a mais, algo que não se vê todo dia. Algo que poderia se chamar de genial, no sentido de elevar a arte a outro patamar.

Diferente de seus outros registros, Katherine abre seu disco com parcimônia. In The Beginning se mostra quase minimalista, revelando aos poucos alguns ínfimos acordes do violão em meio a ondas de elementos eletrônicos e alguns ruídos. A transição para Thoughts Are Born se faz com mais alguns barulhos, que aos poucos se mostram provenientes de seu próprio instrumento. Ela se constrói principalmente à base da percussão acentuada do violão. Somente em Notes and Colours, terceira música do registro, o instrumento é usado propriamente, criando uma bela e chorosa melodia, na qual se encontra outro fundo melódico, feito pelos sintetizadores.

Na sequência, Oobleck é mostrada e revelada também como peça central do álbum. Seu nome vem do conceito de fluidos não newtonianos, que podem se comportar como líquido e sólido ao mesmo tempo. Um conceito físico interessante que se aplica à própria música de King neste álbum. Como visto até aqui, suas faixas se comportam de forma variada, ora assumindo uma cara mais “líquida”, ora mais “sólida”, ora um oobleck, como é o caso desta.

A partir daí, a obra se comporta entrando em uma miríade de combinações dos elementos já mostrados. Anthropomorph brinca com um conjunto de metais, enquanto King desenvolve uma bela melodia usando arpejos, enquanto a dobradinha Trying To Speak I e II mostra um pouco de sua aproximação com os elementos latinos, trazendo também um pouco do teor das guitarras espanholas em sua construção. It Runs and Breathes e Battle Is A Learning, por sua vez, carregam elementos do Rock Alternativo, sendo a primeira delas uma visão mais Pop e a segunda algo mais robusto e ruidoso – uma estranha no ninho dentro de um álbum tomado por timbres acústicos.

O contraste entre Battle Is a Learning e a derradeira faixa da obra, We Did Not Make the Instrument, the Instrument Made Us, também poderia explicar o álbum, que, assim como sua capa, lida com a “disputa” entre luz e escuridão ao percorrer o caminho entre esses dois extremos – assim como o tal oobleck que é tanto sólido, quanto líquido. Por 45 minutos, The Neck Is a Bridge to the Body brinca com a percepção do ouvinte, o guiando mansamente nessa viagem.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts