As pequenas peças geométricas coloridas que tomam conta da capa de Escape From Evil, o novo álbum do grupo norte-americano Lower Dens, em contraste com o branco e preto de seus trabalhos anteriores, tem muito a ver com a nova postura do grupo diante da música que faz.
Se existe uma evolução na sonoridade de Lower Dens, ela se dá muito mais na qualidade do som do que no estilo musical. Embora os rótulos Freak Folk e Shoegaze já tenham sido utilizados com mais contudência para descrever a música do grupo, e agora o Dream Pop tenha se estabelecido como seu meio principal de expressão, todas essas três definições não são difíceis de imaginar como contribuintes para a constituição do atual Lower Dens, agora, na altura do seu terceiro lançamento, muito mais coeso e seguro de si mesmo.
Todavia, Lower Dens faz um som frio, e, embora a metáfora do sonho (vinda do “Dream” Pop) sirva bem ao aspecto aquoso e nostálgico de sua sensibilidade, também arrasta o grupo distante do mundo real e do calor das emoções humanas. No pior dos sintomas vindos dos sonhos, algumas faixas nos trazem a sensação de durar mais do que seu tempo real.
Com essa impressão de que o grupo finalmente se encontrou num território que lhe pertence, Escape From Evil, em comparação com seus predecessores, traz uma maior sensação de amplitude, seja pelo abuso de frequências graves dos sintetizadores ou pelos ecos “molhados” das guitarras. Carregado de nostalgia oitentista, seja pelo viés onírico de The War on Drugs ou pela faceta mais dançante de Chairlift, o grupo apoia-se assumidamente em um período vindo de décadas passadas numa tentativa de fugir aos clichês musicais atuais (ainda mais dentro de uma estilo que se disseminou com tanta força, como o Dream Pop) e, encontra nesse meio do caminho paradoxal sua força expressiva.
