Resenhas

Stealing Sheep – Not Real

Segundo disco do trio inglês é cheio de momentos perfeitos para dancinhas

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Ano: 2015
Selo: Heavenly Records
# Faixas: 10
Estilos: Pop, Indie Pop, Synthpop
Duração: 34:48min
Nota: 4.0
Produção: Sam Crombie

Já estou na quinta repetição e ensaiando uma dancinha ao som da faixa-título deste segundo álbum de Stealing Sheep. Creiam, não sou o tipo que sai dançando por aí, muito menos enquanto trabalho. A verdade é que sai uma mistura irresistível de Pop atemporal das caixas de som e o resultado é revigorante, refrescante, saltitante, subindo e descendo em velocidades diferentes. A chave é essa: pegar referências clássicas de música popular, temperar com alguma pitada de ideologia ou referência e procurar dar ao resultado uma cara contemporânea. As mocinhas conseguem lograr êxito em todas as partes desse processo e entregam uma verdadeira delícia cremosa em forma de disco.

Becky Hawley, Emily Lansley e Lucy Mercer são de Liverpool e fizeram gloriosa mudança estética para Not Real. Seu primeiro álbum, Into The Diamond Sun (2012), apesar de bom, investia naquele Pop de fadinhas medievais feito por gente como Bat For Lashes. O trio deixou esse caminho para trás e resolveu colorir tudo. Pegaram Pop sessentista revisitado nos anos 1980 – especialmente por gente como Bananarama – adicionaram alguma noção de futurismo clássico reempacotado do jeito que Stereolab fazia na década seguinte e capricharam no acabamento Synthpop feito hoje, mas sem aquela impressão de que o estilo é novíssimo. O bom equilíbrio no manejo das influências e noções de tempo é o grande trunfo deste trabalho. Há momentos de um acerto tão grande que quase emociona. É assim na quarta faixa, This Time, que evoca levadas de guitarra, baixo e bateria como se estivéssemos em 1995 e 1968 ao mesmo tempo, com contemporaneidade de sobra. Os vocais e o arranjo lembram uma grande – mas obscura – banda noventista, Lush e isso se encaixa nesse ir e vir ao longo das influências.

A tal faixa título é mesmo o convite irresistível à dança. Tem dinâmica, pontuações simpáticas de teclado e timbres deliciosos. Há percussão sintetizada escondida e um grande número de blips e blops por toda parte, sem que isso seja irritante, pelo contrário. Deadlock é outra beleza, mas já envereda totalmente pela conexão Stereolab-Krautrock, soando como um sambinha acrílico e desconexo, como se alguém combinasse um luau na Utopia Planitia, em Marte. O violão acústico de Evolve And Expand pontua vocais evanescentes e gasosos preparando o espaço para a chegada de Sunk, com ritmo dançante não-óbvio, vocais multiplicados, teclados minimalistas e um jeitão de música feita no teclado Casiotone que achamos ontem no porão.

Love tem mais blips e tóins ornando uma bela linha vocal/baixo que avança como se fosse alguma canção tocada no rádio da nave espacial esportiva de Elroy Jetson, estabelecendo um contraste interessante com She, que é soturna e contemplativa. A melhor e mais impressionante canção do álbum, desbancando a própria faixa título é a maravilhosa Apparition, com tudo o que se espera de uma música: refrão perfeito, arranjo elegante e sintético, vocais belos e femininos, sintetizadores vintage soando como 2015, palmas não-humanas e um clima de que estamos num piquenique vespertino em plena Paris em 2210.

Adorável, popíssimo e cheio de possibilidades, Not Real é uma bela opção para você sacudir discreta e graciosamente seu esqueleto. Sobre o crítico: ele continua ensaiando dancinhas ao som da faixa título e deve permanecer assim ao longo do dia.

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BOM PARA QUEM OUVE: Stereolab, Warpaint, Björk
MARCADORES: Indie Pop, Pop, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.