Resenhas

Speedy Ortiz – Foil Deer

Segundo disco da banda revela fracassos e revoltas de forma direta e bem produzida

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Ano: 2015
Selo: Carpark Records
# Faixas: 12
Estilos: Indie Rock, Noise
Duração: 40:58
Nota: 4.0
Produção: Nicolas Vernhes e Speedy Ortiz
Itunes: https://itunes.apple.com/us/album/foil-deer/id964318430?uo=6&at=&ct=

Sinceramente, quem não gostaria de ser amigo dos integrantes de Speedy Ortiz? Em uma carreira relativamente curta, o quarteto americano mostrou ser uma banda completa em todos os sentidos. Seja produzindo obras que beiravam a genialidade instrumental de Sonic Youth, como seu último disco de estúdio Major Arcana, exprimindo dores e angústias de uma forma ímpar em suas letras, ou fazendo shows que transmitem uma energia monstruosa entre guitarras quebradas e escaladas nas estruturas do palco, o fato é que a banda é um dos nomes mais interessantes da música Noise atual. Entretanto, por mais que fosse digna de tantos elogios, o lançamento de Foil Deer nos deixou claro uma coisa: nós desconhecíamos a força e o poder que o grupo tinha.

“Poder” aqui é uma palavra chave. Seu segundo disco vem acompanhado dos mesmos fatores que nos chamaram a atenção quando seu primeiro disco foi lançado, só que aqui as coisas tomam uma dimensão maior e tudo parece confluir para este resultado. A produção assinada de Nicolas Vernhes traz uma sensação mais ampla para as músicas, explorando mais os timbres de guitarra e arranjos. Além disso, a parceria entre a banda e o produtor deixa mais clara a maestria do controle do ruído, seja ele expresso nas microfonias da guitarras, dissonâncias e (d)efeitos aplicados nas faixas. Speedy Ortiz confirma que as referências Noise dos anos 90 renderam não uma cópia destas, mas um novo direcionamento desta estética.

O disco ganha um toque mais agressivo, entretanto isso não significa com mais distorções. Óbviamente o efeito aqui ganha um destaque muito bem explorado, mas o peso das composições não depende única e exclusivamente disto. As letras que a guitarrista Sadie Depuis assumem uma postura dura sobre a realidade da vida e, portanto, as músicas ganham uma densidade atordoante única. Evidenciando seus fracassos pessoais (The Graduates), sofrimentos (Dot X) e uma postura feminista forte (Raising The Skate), os personagens da vocalista (que ora se confundem com suas reais impressões) não estão presentes no disco para ensinarem lições e sim para dar uma voadora na cara de quem ouse discordar. Quando Gabriel Rolim disse em sua resenha do disco passado para não esperarmos encontrar um ombro amigo ao ouvirmos Speedy Ortiz, ele nos avisou corretamente.

A banda tem tanta consciência de seu poder que, quando anunciado o disco, uma tirinha foi publicada explicando como, daqui a mil anos, este disco seria um influenciador-mor do modo de vida distópico que teríamos. Não que a banda seja carente de modéstia, afinal ela reconhece seus erros e fraquezas quando afirma no último quadrinho da história: “[o disco] representa um momento crucial da história antiga – quando a raça humana era amável, cruel e exuberante, coberta em pele e machucada com facilidade”. Para entendê-lo em sua totalidade, é recomendado ler a curta a história antes de encarar esta rodinha de porrada de forma de disco.

Speedy Ortiz produz uma obra dotada de uma raiva que transcende os limites humanos. Poderosa e feroz, a banda compõe sua obra mais concreta e coesa até então, não deixando obscuro os excelentes trabalhos do passado. Um disco de protesto interno no qual nossos fracassos mostram ser são tão revoltantes quanto conjunturas externas como política ou economia.

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BOM PARA QUEM OUVE: Ovlov, The Breeders, Sonic Youth
ARTISTA: Speedy Ortiz
MARCADORES: Indie Rock, Noise, Ouça

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique