Resenhas

Nils Frahm – Solo

Compositor alemão une leveza e minimalismo ao piano em novo trabalho

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Ano: 2015
Selo: Erased Tapes
# Faixas: 8
Estilos: Piano, Alternativo, Eletrônico
Duração: 42:26
Nota: 3.5
Produção: Nils Frahm e Matthias Hahn

O piano sempre foi o mais clássico e europeu dos instrumentos musicais. Aquele que demanda tempo e requer aprendizado para ser devidamente manipulado e explorado. Ainda que alguns tenham ousado colocá-lo a serviço da alegria dançante, sobretudo no século passado, a partir da incorporação da música negra à música popular, via Rock e Jazz, o piano é o ponto de partida de várias composições clássicas criadas ao longo do tempo. É quase uma unidade de medida do passar dos dias, das eras. Subverter seu uso é sempre um desafio impuro para alguns poucos e ousados manipuladores.

O berlinense Nils Frahm é um desses malucos geniais. Com 33 anos incompletos, Frahm é um lobo urbano que vive entocaiado em sua casa-estúdio e, desde 2009, dedica-se a uma tarefa interessante: explorar o piano através da interligação de vários instrumentos de teclas e do uso da Eletrônica, mas de um jeito que não deturpa ou acrescenta beats dançantes usuais ao longo das composições, ficando muito mais no terreno do clima e da sutileza. Sua música é gelada como um passeio na neve, branca como uma folha de papel e urbana até o último acorde. Em Solo, ele vem imbuído da vontade de fundar o Piano Day, na verdade, uma estratégia malandra para ajudar o construtor David Klavins a tirar do papel seu Klavins 450. A ideia é arrecadar a bagatela de 120 mil libras e o álbum surge como uma forma de atrair os fãs de Frahm para o projeto, brindando-os com uma leva de oito canções belas e inseridas no contexto. O fã compra o álbum e contribui com a odisseia da construção do piano. Simples assim.

Frahm não descuida da qualidade de Solo, tornando-o atrativo para qualquer um que tenha remoto interesse nesse tipo de música. Sua abordagem é econômica, suas composições seguem a tendência de repetição de acordes e estruturas, mas sempre com infusões de ambiências. Neste trabalho, de acordo com o título, ele abre mão das engenhocas tecladeiras e se abraça ao espectro acústico intencionalmente plácido. Sua gênese está na espontaneidade, com Frahm dizendo que as estruturas surgiram da pura improvisação, vindo todas de uma vez, em uma tarde. Após horas de exploração das possibilidades e a ideia de pegar apenas o essencial do instrumento o levaram até as oito composições do álbum, com a noção de chegar ao fim delas de forma mais lenta e devagar, até que sumissem no ar.

Este padrão domina e norteia temas luminosos como Ode ou Some, que evocam a luz do dia, o passeio por paisagens geladas a que nos referimos antes, mas também aparecem de forma mais complexa em Chant, mais cinzenta e lúgubre, e na melhor canção do álbum, Immerse!, que apresenta fraseados mais extensos, porém igualmente minimalistas, mostrando que Frahm pode ser complexo em ambientes áridos e autorrestritos sem abrir mão do conceito enxuto do álbum. Tonalidades mais clássicas banham a faixa de encerramento, a bela Four Hands, cheia de possibilidades, leve e pesada ao mesmo tempo.

Solo é uma boa introdução ao mundo de Nils Frahm mas não entrega todas as possibilidades de seu trabalho. Talvez a audição de um álbum como Spaces, de 2013, seja mais indicada, sobretudo para ver o que o rapaz consegue fazer a partir da intervenção da Eletrônica em sua abordagem, mas garanto que você encontrará já aqui uma boa quantidade de motivos para mergulhar nesses oceanos pianísticos de calma e leveza.

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BOM PARA QUEM OUVE: East India Youth, Brian Eno, Mogwai
ARTISTA: Nils Frahm

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.