Resenhas

Quarto Negro – Amor Violento

Segundo disco do duo ambiciona épicos ecos de um Rock produzido por Brian Eno

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Ano: 2015
Selo: Balaclava Records
# Faixas: 11
Estilos: Rock, Rock Alternativo, Rock Psicodélico
Duração: 55:45
Nota: 4.0
Produção: Brandon Summers e Benjamin Weikel

O que mais me chama a atenção na música do duo Quarto Negro é a sensibilidade das construções líricas envolvendo relacionamentos. Ao mesmo tempo que é algo sutil, é áspero e pedregoso – uma porrada na cara para quem já passou pelas situações croquiniquizadas por Eduardo Praça e Thiago Klein, ao passo que é também o afago em meio a uma conversa com quem já sofreu pelos mesmos motivos. Foi assim com o ótimo disco de estreia Desconocidos (2011) e é assim com Amor Violento, novo lançamento do grupo.

Sabe aquela máxima de “A arte imita a vida”? Um título como Amor Violento não poderia ser mais verdadeiro quando contrastado com esse bordão. Em meio a onze faixas, o duo traz à tona esses casos amorosos que, bem ou mal resolvidos, mimetizam a vida. Adulteram-na, é verdade, ao ponto que transformam esses revezes em algo profundamente belo – e afinal, não é esse um papel da arte? -, mas reproduzem com exatidão a angústia, solidão, brutalidade e insanidade que é estar, ou melhor, sentir-se, só em um relacionamento a dois.

Evolução natural de Desconocidos, Amor Violento é um disco mais ambicioso, ainda que parece ser uma espécie de continuidade de seu antecessor. Diversos dos elementos que tornaram seu debut tão bom, são usados novamente pela banda para tentar criar algo mais encorpado, tenaz. Instrumentalmente, há ar quase épico nas novas construções melódicas, além de arranjos que se mostram mais sólidos, ao ponto que são também mais orgânicos. Aqui, as canções levam seu tempo para se desenvolver, cedendo ao ouvinte tempo que ele possa digerir, ruminar as letras que emergem em meio ao som dos instrumentos.

Trabalhando nos gradientes entre o Rock e a música “Ambient de Brian Eno”, o grupo explora matizes não testadas anteriormente – como em Em Tua Carne, Ancorei, que em seus minutos finais brinca com experimentações em camadas de guitarras e teclado que são sobrepostas, intercalando-se e misturando-se para captar a atenção do ouvinte. De forma contrastante, esses dois polos são bem presentes durante todo o álbum, ora pendendo para um lado mais ameno (Há um Oceano Entre Nós), ora para um mais agitado (Orlando). É interessante pensar que arranjos tão robustos surgem para dar corpo a canções trazidas por um interlocutor tão fragilizado pelas situações que narra.

Os versos “Bem que podia ser melhor/mas eu espero/como um anjo que perdeu a natureza dos seus seus sonhos/eu espero, eu te espero” e “Alguém vem me buscar quando a dor não cessar/e nessa casa, mil anos passaram/mas os anos passam devagar” (ambos de Julien) me parecem ser as peças centrais toda obra, traduzindo um pouco do que é estar amarrado a esse amor violento do título. O disco narra como seus personagens se comportam nesta clausura, alguns parecendo aceitar essa situação ou lutando para reconstruir um castela desmonorado, outros negando-a passivamente ou se rebelando e tentando quebrar esse grilhões.

Esses fragmentos narrativos surgem no álbum de forma desconexa, porém capazes de compor algo maior, um quebra enorme quebra-cabeça formado por essas histórias – nossas histórias. Quando disse lá no começo que o que mais me chamava a atenção na música do grupo era “sensibilidade das construções líricas”, me referia também a um trunfo que poucos artistas conseguem ostentar: a sinceridade. Mais que a simples honestidade, a dupla é capaz traduzir parte de nossas vidas em versos e notas musicais. Mais que isso, Eduardo e Thiago estão dialogando verdades universais com seus ouvintes e isso supera qualquer mérito técnico que a obra possa ter – e que são muitos.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts