Resenhas

Mika – No Place In Heaven

Quarto álbum do cantor e compositor reafirma seu talento para o Pop clássico

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Ano: 2015
Selo: EMI
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Pop Clássico, Synthpop
Duração: 38:43
Nota: 3.5
Produção: Gregg Wells

Mika parece incapaz de fazer qualquer coisa em sua vida sem um refrão de Pop perfeito no meio. Se ele fizer a lista de compras do mercado, certamente irá rimar feijão com macarrão, amarrar tudo com um arranjo de piano e cordas, adaptar numa progressão de acordes própria para a melodia perfeita que surgirá sem que ele mesmo perceba, tamanho é o seu talento. Variações deste exemplo podem ocorrer com lista telefônica e relatório de atividades de um setor burocrático de uma empresa qualquer. O fato é que, aos 33 anos de idade, Mika é, sim, um grande artista do Pop dourado do grande time. E está ficando melhor a cada disco.

No Place In Heaven é seu quarto e melhor trabalho. Não há qualquer sinal de obrigação em fazer “álbum de festa” ou algo no gênero, como seus dois primeiros discos poderiam sugerir. Mika se dispõe a entregar um produto Pop ao ouvinte, nada além. Sua capacidade de elaborar melodias ganchudas e grudentas é impressionante, seja em baladas ou em canções mais rapidinhas, feitas para a pista de dança ou para trilhas sonoras cinematográficas de comédias inglesas a partir dos anos 2000. De modo geral, as canções se situam no padrão de Pop mais dançante, beirando o Eletrônico por conta de algumas programações de bateria e vocais fazendo “ô, ô, ô” aqui e ali, mas a média de acerto é enorme. Às vezes, surgem exemplos como Staring At The Sun, que você jura já ter ouvido em abertura de Fifa 2015 ou algum comercial da TV, mas se dá conta que ela é inédita e que Mika capturou uma espécie de “Zeitgeist Pop” ao compô-la.

A questão dele ser um artista assumidamente gay não parece mais pesar em sua obra. Algo que, segundo consta, trouxe bastante aborrecimento em sua adolescência está devidamente incorporado à sua música, jamais tornando-a caricata ou risível, pelo contrário, confere emoção e profundidade ao que ele compõe. Reveste as canções mais sentimentais como Hurts, baladinha adorável ao piano, com vocais dobrados no refrão e solenidade na medida para não atrapalhar tudo.

Soando como uma espécie de Rufus Wainwright mais alegre e colorido, o forte de Mika está nas chamadas canções “pra cima”, como a sensacional All She Wants, que tem um revestimento de música dourada da Motown dos anos 1960/70, que gente como Elton John amaria e tentaria emular em seus primeiros discos, ou Good Wife, que tem cara de música comemorativa de evento master como Olimpíadas ou Copa do Mundo, com climas épicos e essência dançante comportadinha. Rio é outro acerto com certa latinidad e algum desejo dançante que lembra o arranjo de Faith, sucesso global de George Michael em 1987. Fico na dúvida sobre qual seria a melhor canção deste simpático álbum. A faixa-título, que tem andamento que tangencia o Country mais clássico e letra sobre sossegar ao lado da pessoa amada, ou a suingada Oh, Girl You’re The Devil, que pega emprestado o modo Maroon 5 de fazer canções, lima todas as – muitas – impurezas – e acrescenta brejeirice à mistura, com resultados sensacionais no fim.

Este quarto trabalho de Mika tem diversidade e opções bem definidas sobre permanecer à frente de uma proposta eminentemente Pop e, dadas as circunstâncias estéticas de hoje, quase retrô. Ele sabe o que faz e pretende agradar cada vez mais ao público órfão de canções legais, dançantes e que não abrem mão de certa dose de artesanato para existirem. Coisa fina.

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BOM PARA QUEM OUVE: Abba, Rufus Wainwright, Scissor Sisters
ARTISTA: Mika
MARCADORES: Classic Pop, Pop, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.