Resenhas

Hudson Mohawke – Lantern

Apesar de mostrar domínio do produtor na criação de batidas, trabalho não convence e se mostra datado

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Ano: 2015
Selo: Warp Records
# Faixas: 14
Estilos: Trap, EDM
Duração: 47:17
Nota: 2.5
Produção: Hudson Mohawke

É inegável que um produtor deve saber trabalhar as suas peças. Escolha do equipamento ideal, execução, ajuste de níveis de volume, mixar e ainda saber encontrar boas parcerias no meio do caminho são apenas algumas das diversas atribuições que um produtor musical deve ter. Em tempos modernos, grande parte desses elementos podem estar disponíveis dentro de um computador, o que não diminui a importância de saber efetivamente tirar o potencial do que está disponível. Nessa função, Hudson Mohawke é um dos nomes mais requisitados dentro do Hip Hop, mesmo que sua música seja Eletrônica, por simplesmente saber fazer batidas e trabalhar muito bem vozes externas.

Kanye West e Drake são alguns dos nomes que já tiveram músicas produzidas pelo escocês e isso se mostra notório em Lantern, o segundo disco de Mohawke – o primeiro depois de tantas parcerias e “reconhecimento”. O lado Yeezus do produtor é percebido nas batidas de Ryderz, feita quase como uma homenagem ao Hip Hop, enquanto Kettles tem a grandiosidade instrumental necessária para atingir o mainstream. Talvez sejam feitos impressionantes, ao mesmo tempo em que nos fazem pensar na certa previsibilidade desse trabalho.

O Trap, um dos gêneros mais difundidos nos últimos três anos dentro da EDM e sinônimo do som de Hudson, já mostra também um certo grau de esgotamento, dada sua fórmula secreta manjada de batidas minimalistas com baixos graves e drops cheios de sintetizadores. Nesse sentido, Lanterns não impressiona tanto. A alegre Shadows até caminha em uma direção mais polifônica extrovertida, algo já visto no último EP do produtor, Chimes, e mesmo assim não assume um papel de protagonismo esperado. Logo, os momentos em que Hudson está fazendo suas faixas “solo”, não são tão bons assim – exceto Lil Djembe, com inspirações nos últimos trabalhos de Aphex Twin, ou Portrait of Luci, o grande momento do disco e provavelmente a faixa que o levará a tocar em baladas pelo mundo.

Se isso pode ser um resumo de seu lado produtor trabalhando com suas peças no disco, temos uma outra face na obra que merece atenção: as parcerias. Trabalhar com vozes e construir histórias (batidas) para elas talvez seja o grande talento de Hudson. Indian Steps, com Antony Hegarty (Antony & the Johnsons), é o primeiro instante que faz o ouvinte prestar atenção no disco e isso ocorre pelo bom entrosamento entre os artistas. Mesmo com uma escolha óbvia de elementos, como ocorre na balada Very Fist Breath, com Irfane, somos convencidos que seu papel é ao lado de outros nomes com obviamente algumas limitações. Deepspace, com o cantor de R&B Miguel, já desponta como hit romântico, enquanto Resistence, com a cantora Jhene Aiko, é uma faixa bem encaixada que não engrena em nenhum momento.

Hudson Mohawke não nega do começo ao fim que Lantern se trata de um trabalho autoral e que pega bastante de sua história na música para criar uma experiência particular. Ao mesmo tempo, se nesses últimos seis anos desde o lançamento de Butter, muitas coisas aconteceram (como as parcerias certeiras em TNGHT ou com rappers famosos), o Trap também se mostra distinto, caminha para outros lados e precisa de outras misturas para não ficar óbvio e banal. Major Lazer fez isso em seu último trabalho, enquanto Mohawke parece ainda preso a ideias de alguns anos atrás. O gênero parece não caminhar mais com ele, aqui diverte em alguns momentos e nos mostra o quanto ele é um bom produtor quando está ao lado de outros artistas, mas nada além disso. Para conseguir dominar um disco do começo ao fim e ter uma história cativante, talvez Hudson precise sair um pouco mais de sua caixa de utensílios para experimentar mais.

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BOM PARA QUEM OUVE: Redinho, TNGHT, Rustie
MARCADORES: EDM, Trap

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.