Engana-se quem pensa que DJ é um sujeito que está discotecando do iPod ou pendrive e que não faz nada além de executar músicas alheias. O antigo ofício de discotecar – vulgarizado nos dias atuais por pessoas sem tanta expertise ou simplesmente vontade de realizar o trabalho como se pede – traz uma série de atributos que possibilitam que o DJ, na verdade, se torne muito mais que um tocador de playlists. Mover-se entre tempos e estilos distintos e formatar um conceito musical mais bem formado na cabeça de um futuro produtor são somente alguns exemplos de qualidades que o profissional pode aprender com a experiência. Longe do amadorismo e já dominante nos principais clubes de Música Eletrônica do país há mais de uma década, Database é uma das grandes referências brasileiras em música sintética e mostra isso do começo ao fim de Prime Time EP.
O curto trabalho representa o retorno do duo formado por Lúcios Morais e Yuri Chix às composições autorais. Em seu cúrriculo, constam remixes de nomes como Holger, Copacabana Club, Aldo, The Band, Metronomy e Gilberto Gil, entre outros e também setlists elogiados com noites sempre divertidas por onde passam, tanto no Brasil, quanto no mundo afora. Talvez o know how de Música Eletrônica como um todo explique as transições que temos neste EP – passamos do Electro nervoso, para brincar com vertentes do House e Techno e terminar em um delicioso suingue Disco ao final. Consistente, o trabalho mostra o gosto de ambos por composições carregadas de tensão, basslines profundos e desfechos dançantes.
A abertura The Fly Speech joga logo de cara uma linha de baixo que provavelmente vai ficar na sua cabeça durante muito tempo. Sua construção progressiva traz a velha escola de transições entre filtros e acréscimos de elementos que desfiguram o riff inicial até que tudo seja diminuido e retorne à frase básica. Nervosa, pode ser facilmente imaginada com pessoas delirando em algum clube famoso do mundo é uma produção finíssima que chama realmente atenção. Já D.Edge não poderia ser outra coisa senão uma homenagem ao clube mais reconhecido do Brasil no exterior.
Momento mais Techno do EP, pela sua percussão mínima e momentos de tensão sucedidos por baterias eletrônicas esparsas, a faixa acaba se mostrando surpreendente pelo seu clímax em um baixo gordo e redondo que se movimenta dentro do ouvinte. Quando se fala que a produção do duo é ótima, pode-se usar essa música facilmente como referência – ela passa por diferentes frequências sonoras em sua mixagem e mostra a escolha precisa de instrumentos e elementos que irão entrar em cada momento da faixa. Ao final, dão a clara sensação de espacialidade na cabela do ouvinte. Não poderia ter melhor nome que esse e todo o seu corpo parece reproduzir o que se busca na casa: Música Eletrônica de qualidade independente do gênero. A faixa título, carregada de House, tem tudo o que fãs mais novos de Disclosure buscam: variações psicodélicas de sintetizadores, bateria eletrônica clássica e dança do começo ao fim.
Talvez o momento mais inesperado do EP venha de Cool Kids, deliciosa faixa com inspirações no Nu Disco e que traz sol e calor a um trabalho gélido e concreto como um clube noturno. Mostrando a vertente mais ensolarada do duo, talvez seja a interpretação que ambos tem para o outro projeto de Lúcio, o quente ASCIO. Se você gostou do último disco de Todd Terje, escute essa música sem se arrepender. Consistente, inspirado e extremamente bem produzido, Prime Time mostra que Database não retornou aos trabalhos autorais de graça e que a história de ambos está se misturando ao seu som. Diversas vertentes, múltiplas influências e a capacidade de fazer tudo isso em formato de música dançante, groovy e vibrante fazem desse curto EP o caminho certo para você se perder na noite.
