Resenhas

Bully – Feels Like

Estreia de Alice Bognnano se destaca por mostrar novos aspectos da raiva

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Ano: 2015
Selo: Col
# Faixas: 10
Estilos: Noise Punk, Garage Punk
Duração: 30:23
Nota: 3.5
Itunes: https://geo.itunes.apple.com/us/album/feels-like/id980775300?

Eu poderia jurar que ao escutar os primeiros segundos do disco de estreia de Bully, na verdade, estaria escutando algum lado B de Wolf Alice. Essa similaridade veio muito da proximidade com estéticas vindas dos anos 90, bem como uma espécie de Garage Punk bastante cru. Entretanto, bastaram alguns segundos a mais dentro da obra para perceber que essa era apenas uma opinião precipitada e o projeto de Alice Bognanno, na verdade, ia muito além de um propósito nostálgico. Aqui, a banda projetava uma identidade focada em exprimir mais do que a sonoridade de uma geração, mas os sons da raiva interna e dos problemas que dizem respeito apenas a Alice.

Feels Like tem uma personalidade forte e raivosa. Alice opta por exprimir suas impressões sobre temas cotidianos sem poupar esforços, no sentido de transmitir integralmente sua indignação. Dessa forma, faz todo sentido ela se inserir dentro de uma estética como a do Garage Punk. Com riffs bastante simples (Trash), rítmos agressivos e ríspidos (Brainfreeze) e uma melodiosidade que tanto suaviza quanto ironiza mais ainda a temática do disco (Trash), é um trabaho que provoca e nos instiga a conhecer mais o mundo da artista e o que faz ela gritar tanto conosco. Diferentes do exemplo de Wolf Alice, os gêneros musicais não são o principal, apenas servem como base para sustentar as mensagens que a compositora quer passar.

Dessa forma, as letras assumem um papel importante. Alice divaga por vários aspectos da sua raiva. Desde o aspecto mais óbvio dela (“I hate it so much, I hate you it much”, na faixa Picture), as relações irônicas da raiva com o amor (”I would never make you feel the way some people make me feel”, na faixa Six), até mesmo a raiva interna contra sua pessoa (“I’m just looking for clarity to help me get through”, na faixa Trying). É curioso como Alice mostra estas diferentes faces do sentimento raivoso pelas onze faixas do registro, mostrando que não são só guitarras distorcidas e letras agressivas que transmitem este sentimento, mas também todo o processo investigativo (e até mesmo psicológico) de descobrir as naturezas desta raiva.

Em uma estreia potente, Bully se destaca entre tantas outras bandas raivosas e adeptas dos anos 90. Com uma produção bem executada, o nome de Alice fica na nossa lista de nomes para ficarmos de olho no futuro. Quem sabe o tempo possa aprimorar esta fórmula que já se destaca, mas que mostra um caminho promissor.

Um retrato realista da raiva humana e pessoal.

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BOM PARA QUEM OUVE: Superdrag, Wolf Alice, Speedy Ortiz
ARTISTA: Bully

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique