Resenhas

Bilal – In Another Life

Disco remete ao antigo com músicas que entrelaçam R&B, Hip Hop, Jazz e Funk

Loading

Ano: 2015
Selo: eOne Music / Purpose
# Faixas: 12
Estilos: R&B, Hip Hop, Jazz
Duração: 38'
Nota: 3.0
Produção: Adrian Younge

Desde sua estreia em 2001, Bilal manteve em seu som uma característica mutante, por mais que sempre flutuasse em torno de estilos como R&B dos anos 90, Hip Hop, Jazz e Funk. Outra coisa marcante em sua obra é a desconstrução e repaginamento desses elementos da música negra em alguma vertente que não exatamente segue o mercado “pede”. E foi exatamente essa postura quase iconoclasta do músico que o relegou a papel de coadjuvante em um cena que tem revelado nos últimos anos artistas bem mais novos, como Frank Ocean, Miguel e The Weeknd.

In Another Life é mais um passo nessa direção, digamos, contrária. Se os mais recentes discos desses artistas citados têm um som profundamente enraizado nos elementos eletrônicos, Bilal perseguirá o analógico como sua meta – mostrando também o lado oposto do que apresentou em A Love Surreal, disco lançado em 2013. Por mais que o resultado seja muito imediato e refinado, falta nele uma conexão maior com o que está acontecendo no momento dentro dos terrenos em que pisa. O disco, ao invés de soar atemporal, parece algo fora de sua época – ainda assim, com músicas muito boas.

Com Adrian Younge como produtor (o mesmo que trabalhou em parceria com o rapper Ghostface Killah no ótimo Twelve Reasons to Die), o disco reinterpreta ritmos vindos dos anos 60 e 70, em especial o Soul e Funk, através de uma instrumentação poderosa e às vezes agressiva, mas ainda assim bem óbvia. Sirens II, por exemplo, abre o disco escancarando essas tendências retrô que o disco seguirá em toda sua duração: as batidas suingadas, os efeitos do órgão, o baixo pulsante, algumas entradas do sintetizador e uma mixagem que não exatamente enriquece o uso desses elementos – deixando a bateria geralmente muito alta e gerando certo caos na audição.

As partes “classudas” e mais divertidas do disco vêm principalmente do encontro do Jazz (em alguma de suas variadas vertentes) com outros estilos. Open Up The Door é um exemplo disso. Há um pouco do Funk e Soul em sua composição, o que lhe confere um balanço ímpar e soluções de arranjo bem interessantes. A sexy Pleasure Toy (com participação de Big K.R.I.T.) é outro desses momentos de dualidade – um que mais parece o encontro entre Marvin Gaye e Prince -, em que o Rap aparece como segundo elemento. E por falar em Rap, Kendrick Lamar também contribui no disco, na psicodélica faixa Money Over Love – uma das melhores músicas da obra. Um dueto com Kimbra, em Holding It Black, fecha as participações especiais em uma faixa com bastante groove, mas com um mix que não favorece tanto os vocais.

O disco pode não ser o melhor do músico ou mesmo capturar a aura do momento em que foi criado, mas ainda assim é fácil e divertido de ser ouvido. Se por um lado a obra falha em atingir completamente as ambições de Bilal ou mesmo de ser sua porta de entrada ao estrelato que nomes como Frank Ocean e Miguel atingiram, ela traz um tempero retrô que serve como respiro para os fãs que ultimamente tem contato somente com as releituras mais eletrônicas do R&B, Soul e Jazz.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Jill Scott, D'Angelo, Miguel
ARTISTA: Bilal
MARCADORES: Hip Hop, Jazz, R&B

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts