Resenhas

Leo Justi – Vira a Cara EP

Trabalho mostra que o Funk se transforma nas mãos do produtor

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Ano: 2015
Selo: Waxploitation
# Faixas: 5
Estilos: Trap, Baile Funk
Duração: 14:30
Nota: 3.5
Produção: Leo Justi

Leo Justi tem um campo de visão periférico. Enxerga os extremos e as fronteiras sonoras que são opacas para muitas pessoas e nos entrega algo novo e contemporâneo. É assim que ele vem transformando a nossa percepção do que é o Baile Funk com a sua autoral versão para as famosas festas – repaginada e com elementos musicais que bebem do Global Bass e da Trap. Seus últimos trabalhos, o ótimo EP HVY BL NSS PRR e a mixtape Heavy Baile, denunciaram as suas intensões de quebrar as expectativas e até preconceitos dos mais puristas em relacão ao Funk Carioca, gênero musical que responde socialmente por muita coisa no Brasil.

No EP Vira a Cara, Justi continua lapidando a sua criação musical, o Heavy Baile. Cheio de texturas e samples de Funk Clássicos, suas faixas se comunicam muito bem com o que alguns gringos, como Diplo e seu Major Lazer, vem fazendo lá fora. Ambos podem estar presentes, por exemplo, no setlist de um DJ mesmo sendo bastante distintos entre si – enquanto os estrangeiros pegam alguns pequenos elementos do nosso Funk como sua clássica batida ou sua arquitetura sonora, Justi parece fazer o contrário. As suas referências externas vem principalmente nos drops de batidas e na complexidade da EDM atual. Por isso, podemos dizer que ele tenta lapidar o gênero e criar algo novo a partir dele.

Claramente, ouvimos o Funk Carioca na ótima Deela Ding, mas também graves profundos e uma batida que nos remete ao Trap. As vozes são descontruídas a ponto de serem picotadas e não perderem o seu caráter viciante, como a famosa frase da faixa de Tati Quebra-Barraco 69 Frango Assado: “de ladinho a gente gosta”. Impecável, poderia cair na armadilha de tentar ser “gringo demais”. Liso, Justi coloca só elementos dançantes e contemporâneos dos graves mundiais para unir todos aqueles que não estão abertos ao Funk. Ao mesmo tempo, existe espaço no EP para brincar com a rasterinha em Hoje eu to Facin, ou para o Miami Bass na ótima Pros Amigo, com Mc Tchelinho.

A nova roupa pode ser vista na faixa título e seu clipe: ambos glamourizam a periferia que para muitos permanece invisível. É o famoso “som de favelado” chegando aos ouvidos da elite e que, ao mesmo tempo, está se transformando pela criatividade e alta produção de Justi. Não é à toa que nomes como M.I.A (artista que brinda as periferias mundiais) e Emicida olham para o produtor com bons olhos, pois seu produto final está acima dos demais no país e fogem de seu nicho.

O contrato assinado com o selo estrangeiro Waxploitation só mostra como o produtor está muito mais próximo do mundo ao criar sua música com elementos bem brasileiros e olhar atento ao que faz o resto do planeta dançar. Talvez seja o Funk Moderno, ou simplesmente o Heavy Baile de Leo, no entanto, não tem como negar o seu protagonismo ao levar o estilo aonde ele poderia não chegar anteriormente. Ao final, a vontade de sair dançando e curtir um baile é inevitável e Justi prende o ouvinte de forma impressionante, tornando Vira a Cara o caminho certeiro para adentrar no peso dançante de seu complexo e rico som.

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BOM PARA QUEM OUVE: Sango, Major Lazer, Diplo
ARTISTA: Leo Justi

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.