Resenhas

MS MR – How Does It Feel

Segundo álbum do duo americano visita o Pop oitentista

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Ano: 2015
Selo: Sony
# Faixas: 12
Estilos: Pop, Synthpop, Eletrônica
Nota: 3.0
Produção: Tom Elmhirst

Outro dia, ao empreender a sagrada tarefa semanal de fazer compras com a esposa, percebi que um produto dos anos 1980 havia voltado às prateleiras do mercado: uma variedade de cereal de uma conhecida companhia americana aparecia com grande quantidade na gôndola. Não exibia o nome de mais de três décadas atrás, mas não havia erro, era o mesmíssimo – e bom – cereal açucarado em forma de pequenas bolotas. Quem não teve a sorte de experimentá-lo há mais de trinta anos, poderá, facilmente, ser ludibriado pela propaganda e pensar que está diante de algo absolutamente novo, sensacional e revolucionário. Em vez de flocos açucarados de milho, bolotas crocantes igualmente doces, com a chancela da marca e a garantia de qualidade necessária. O que pode ser melhor? Tal comparação entre gordice e música Pop é bem apropriada para entender o lançamento do segundo álbum da dupla americana MS MR, How Does It Feel.

Assim como o cereal, seja do passado, seja de hoje, o disco e a dupla não são ruins, pelo contrário. Lizzy Plapinger (voz) e Max Hershenow (teclados, programações e coisações diversas) são descoletes do distrito novaiorquino do Bronx, um bom pedigree de contemporaneidade. São legais, detentores de certo talento e têm referências, adivinhe, dos anos 1980. É aquele tipo de gente que pensa na década como um enorme playground sonoro, uma espécie de Epcot Center de sons e estilos, pronto para ser visitado e rapinado. Se esta outra comparação procede, multidões passam pelo parque temático-futurista-comunitário de Walt Disney a todo momento, exigindo cada vez mais sinceridade/originalidade de seus visitantes. MS MR (sim, Missus Mister) não consegue escapar de uma nota sete, suficiente para passar de ano, mas bem longe de algum merecimento de menção honrosa ou desconto na mensalidade. Faz Pop legal e esquecível.

Tento em vão resistir à tentação de nova metáfora alimentícia quando ouço as canções do álbum. São sanduíches de fast food musicais, fazem bonito no momento mas você sabe que não quer aquilo para sua vida por muito tempo, porque, sim, faz mal e não alimenta. As canções são interessantes, usam os efeitos eletrônicos a favor da melodia e não como muletas estéticas, caso das elegantes No Guilt In Pleasure, Tripolar e Reckless, esta última climática e com certo drama, lembrando a introdução de Careless Whisper, de George Michael por alguns secundos, para descambar em algum ritmo dançante genérico e derivado do Synthpop de gente como Thompson Twins ou alguma banda oitentista menos credenciada. Cruel, logo em seguida, tem criatividade na batida sintética em oposição à cama de teclado/baixo, gerando uma sensação de elegância e economia no arranjo. Pieces também tem seu valor, com teclado discreto e bom trabalho de bateria e vocal, mostrando que os sujeitos também ouviram alguns discos de Eurythmics.

A grande exceção à mesmice do álbum está em Wrong Victory, que tem climas e sutilezas em um andamento que flerta com o Reggae de modo que quase ninguém nota. Lizzy tem boa performance vocal e o arranjo cumpre sua parte em fornecer céu de brigadeiro para que a moça voe suave e tranquila sobre a canção. O encerramento se dá com All The Things Lost, com voz e piano, e um certo suspense, que se confirma lá pro meio da faixa, quando entram teclados e bateria marcial. Bonito mas previsível.

How Does It Feel deve soar como a chegada do messias para quem está começando a se aventurar na descoberta do Pop oitentista feito hoje, que, quase sempre, é inferior ao da década de origem e que só serve como passaporte para novas/velhas diversões. Pelo menos, MS MR não vai deixar gosto ruim na boca dos neófitos, mas certamente causará azia nos mais velhuscos conhecedores daqueles tempos. Vá aos originais logo.

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ARTISTA: MS MR
MARCADORES: Eletrônica, Pop, Synthpop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.