Resenhas

Wilco – Star Wars

Principal projeto de Jeff Tweedy lança álbum de surpresa com tempero Stoner Rock

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Ano: 2015
Selo: dBpm
# Faixas: 11
Estilos: Stoner Rock, Rock Alternativo, Alt-Country
Duração: 33:47
Nota: 4.5
Produção: Tom Schick, Jeff Tweedy

Uma das coisas mais legais de poder escutar um álbum de Wilco a esta altura de sua carreira é saber que, mesmo que pouca coisa nos surpreenda em seu conteúdo, isto se dá pelo fato de que nossas altas expectativas serão supridas sem dificuldade pelo grupo.

Wilco sempre foi vista como uma banda “alternativa” e “experimental” (sendo comparada, inclusive, ao grupo britânico Radiohead no quesito inventividade), rótulo que, confesso, nunca fez muito sentido para mim. Mas explico-me: a impressão que se tem ao escutar qualquer um dos nove álbuns de sua carreira não é de estar ouvindo algum grupo que desafia com rebeldia qualquer convenção ou método em sua música, no sentido de, inclusive, poder irritar ou contradizer alguns de seus fãs, mas a de um grupo que soube incluir elementos heterogêneos em sua sonoridade com tanta elegância que sempre pareceu muito consciente do próprio trabalho e maduro em relação a sua música.

Por outro lado, não é difícil de entender porque sempre se recorre a essa classificação para descrever a banda americana. Com integrantes vindos do projeto Uncle Tupelo, a banda liderada por Jeff Tweedy, mesmo que tenha mantido a mesma formação desde 2004, nunca se rendeu às fórmulas prontas e a qualquer tacanhice de auto-paródia, e, embora tenha sempre ostentado o mesmo estilo musical – algo entre o Rock Alternativo e o Country Alternativo para os mais aficcionados por classificações – sempre soube propor inovações e uma verve fresca e criativa em todos os seus trabalhos.

Mesmo que Jeff Tweedy tenha lançado com seu novo projeto TWEEDY, ainda no ano passado, ao lado de seu filho, um vinil duplo com mais de uma hora de duração – uma homenagem ao ritual de se ouvir um álbum -, Wilco não via um lançamento de um trabalho inédito já há quatro anos. Se tivermos em vista a faceta workaholic de seu proponente, sempre ativo e de espírito contemporâneo, o lançamento de um álbum surpresa, gratuito, e que contradiz toda a proposta de seu projeto anterior, não é uma atitude necessariamente surpreendente.

Assim sendo, vemos o nascimento de um álbum chamado Star Wars, com uma capa que exibe uma pintura tosca de um gato, numa espécie de estilo “pano de prato” (que eu, aliás, adorei). O que esse nome e essa ilustração querem dizer, não sabemos. Mas talvez não seja um chute tão equivocado arriscar que essa estratégia de lançamento somada a essas características sejam uma homenagem de Wilco à cultura da internet, e, assim, um modo da banda não se deixar ultrapassar.

Temos aqui o melhor de Wilco. Aquele violão amadeirado, aquela guitarra crocante, aquela bateria seca e elegante, aqueles teclados vintage, aquele vocal sinuoso e dolorido e a melhor qualidade de timbres que um audiófilo da qualidade de Tweedy sabe reproduzir. Com uma diferença: uma aposta no peso e nos pedais de fuzz como nunca antes visto na banda. No entanto, mesmo com um aspecto Stoner Rock praticamente inédito, é Wilco sem margem para dúvidas.

É possível deduzir um leve tempero de Captain Beffheart na introdução barulhenta EKG, uma guitarra Radioheadiana à la Bodysnatchers na “tão ardida quanto seu nome sugere” Pickled Ginger e uma melodia lisérgica de Syd Barret em Magnetized, no entanto, Wilco, nos idos dos seus 21 anos de carreira e de seus nove álbuns é quem merece – e deve – agora ostentar o posto de referência para as bandas atuais, mesmo que (e, talvez, inclusive por isso) se mantenha tão ativa e interessante quanto as próprias.

A única reclamação a fazer aqui é sobre sua duração. Acostumado a lançar trabalhos que rodeiam (ou ultrapassam) os cinquenta minutos de duração, Star Wars garante apenas pouco mais de meia hora de conteúdo. Mesmo assim, uma estratégia coerente, se pensarmos na nossa hipótese de que Wilco se adapta sem dificuldades a uma nova lógica de produção cultural, agora mais digital e imediata. Nesse cenário, não fica difícil imaginar porque seja uma das únicas veteranas a se apresentar integrando o line up de festivais que cultuam o hype como o Pitchfork Festival e também que cause tanta comoção ao lançar um álbum gratuito, mesmo sem precisar fazer tanto alarde quanto outros de sua idade ou cacife.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte