Resenhas

BIKE – 1943

Obra de estreia de Julito Cavalcante revela uma verdadeira viagem de LSD

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Ano: 2015
Selo: Honey Bomb Records
# Faixas: 8
Estilos: Rock Psicodélico, Psicodelia
Duração: 31'
Nota: 3.0
Produção: Julito Cavalcante

O nome BIKE vem como homenagem ao químico suíço Dr. Albert Hoffman, que em 1943 criou o LSD e em sua primeira grande dose do alucinógeno saiu para uma volta em sua bicicleta. 1943 é também o título que recebe a obra de estreia de Julito Cavalcante (atual baixista do trio Macaco Bong), que embarca em uma viagem sinestésica causada pela substância e guiada por oito músicas que seguem um clima lisérgico digno de figurar entre os representantes dessa onda da “Nova Psicodelia”.

Em várias entrevistas dadas antes do lançamento do álbum, Julito fez questão de ressaltar o teor alucinogênico de sua obra. Com dizeres como “É mergulhar, aproveitar a brisa e, quando já não tem mais nada de bom, pular fora antes de entrar em uma bad trip” e “Se você não crê que existem ondas cerebrais, vai perceber a falta que elas fazem quando são tomadas pela inebriante mistura sonora que tira teus pés do chão e te deixa anestesiado. Isso é 1943” não é difícil imaginar o papel que a substância teve em seu processo de produção. Não é difícil também perceber que ela resulta em um disco profundamente ambientado na experiência e hipersensibilidade da brisa.

O problema, porém, vem para quem está em seu estado normal de consciência ao ouvir o alucinógeno disco. As construções melódicas são quase sempre bem simples e feitas para criarem um grande loop – o que acarreta em uma grande repetição de elementos e acordes. Mesmo a construção das faixas (quase sempre começando com ideias simples e chegam ao ápice com uma explosão de distorções ao fim da faixa) se torna um elemento repetitivo dentro das oito músicas do álbum. O mesmo acontece com o timbre vocal de Julito que pouco muda entre as composições.

As letras, assim como as melodias, são frutos de um estado expandido da mente, o que torna a compreensão para quem está “careta” pouco mais difíceis. Ainda assim, é possível perceber a sensação de liberdade quase hippie que Julito consegue trazer em suas músicas (como “A terra treme e os céus chacoalham/resolvemos os problemas do mundo e eles se repetem”, de Enigma do Dente Falso). Há algo libertário nessas canções (que se inspiram nas teorias cósmicas Carl Sagan e nos estudos de Erich von Daniken e sua tese dos Deuses Astronautas) e parece nos dopar e transportar diretamente para a década de 1960, época em que o uso do LSD estava em expansão e que guiou tantas outras obras Psicodélicas tomadas como referências por Julito, como Piper Gates at the of Dawn, de Pink Floyd.

Diferente de seus contemporâneos Boogarins, Tame Impala, Pond, Supercordas e por aí vai, BIKE tem um som muito mais auto centrado, sem a preocupação de soar Pop ou de alguma forma mais “consumível”. Honrando seu nome e as homenagens que presta, 1943 é uma verdadeira viagem psicodélica, mas que cobra como entrada o uso da substância do Dr. Hoffman – uma audição sem ela pode ser bem menos potente.

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BOM PARA QUEM OUVE: Boogarins, Syd Barret, Pink Floyd
ARTISTA: BIKE

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts