Resenhas

toe – Hear You

Terceiro disco do quarteto japonês traz novos elementos à sua mistura sonora consegrada

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Ano: 2015
Selo: Topshelf Records
# Faixas: 11
Estilos: Math Rock, Post-Rock, Experimental
Duração: 39'
Nota: 4.0

Hear You é o terceiro disco do quarteto japonês toe e também o terceiro acerto em sua carreira. Depois de lançar um álbum como For Long Tomorrow (2010), que serviu como catapulta para a carreira do grupo em escala global, o desafio dos nipônicos foi construir uma obra que não fosse ofuscada por essa grande sombra de talento e tino musical para a inovação vista neste impressionante disco.

O resultado disso soa como quase como um desafio que a banda propôs a si mesma. Além da usual mistura entre Math Rock e Post-Rock vista nas demais obras do grupo, há novos elementos aqui, como a presença do Piano Pop, Hip Hop e de traços no geral mais Pop e bem mais palatáveis. Se essa expansão diluiria a musicalidade da maioria das bandas que se aventurassem nesses novos territórios, o quarteto consegue o efeito exatamente oposto e engrossa o caldo com esses novos ingredientes. Há mais vivacidade, mais cores, mais variedade, mais emoção.

Há também mais vozes. Se elas eram usadas somente como acompanhantes ou elementos secundários em outras obras da banda, aqui ela ganha papel de protagonista em faixas como Commit Ballad (com um delicioso e sensível vocal), Song Silly (com seu quê James Blake), Time Goes (e seu tom Hip Hop), G.O.O.D L.U.C.K (e sua vibe Hollaback Girl) e オトトタイミングキミト (que cria uma ótima ambiência com a presença do piano e de um clima jazzístico). Cada vocalista convidado se encaixa muito bem com a canção que foi designado e consegue, ao lado da banda, expandir o som que era feito pelo grupo anteriormente.

Por mais que cinco das onze faixas do álbum sejam cantadas, o poder das construções instrumentais do grupo não se perdeu. É até possível dizer que elas foram potencializadas, que há mais sentimento, ao mesmo tempo em que há muita técnica. Se elas inicialmente parecem coisas distintas para você, talvez a abertura com Premonition (Beginning Of A Desert Of Human) poderá te fazer mudar de ideia. Assim como no EP The Future is Now (2012), o tom mais acústico toma conta da composição e se mistura com um etéreo fundo eletrônico. Ela serve como prelúdio para A Desert Of Human, que leva adiante a melodia desta com a junção de novos elementos e uma bateria magistral, que pulsa em tempos desconcertantes, mas hipnóticos.

The World According To é outra faixa que dá maior ênfase nos elementos acústicos. Ela vai crescendo aos poucos no volume dos instrumentos ao fundo, chegando a um apoteótico dedilhado do violão que encerra a música em meio ao rufar da bateria. My Little Wish, por sua vez, resgata a essência mais roqueira e frenética do grupo, criando um grande crescendo que dura quase quatro minutos. Boyo (que parece ter saído do EP New Sentimentality) e Because I Hear You fecham o disco de forma mais amena, assumindo formas mais calmas e melancólicas – como o delicado baixo da primeira ou melodia relaxante da última. Uma mansidão que encerra muito bem um disco que entre sua calidez e agitação se destaca como um dos melhores já produzidos pelo quarteto.

Sobretudo, toe mostra-se sem medo de experimentar e introduzir novos elementos na mistura que os consagrou, e revela-se também sem receio de trazer vozes ao seu som conhecido como puramente instrumental. É louvável não só a coragem do quarteto, como também a maestria com a qual consegue moldar seu som para estes novos elementos – assim como torná-lo ainda mais palatável sem perder o cerne de sua música.

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts