Quando Lianne La Havas apareceu, ainda em 2012, com seu primeiro álbum completo intitulado Is Your Love Big Enough?, ficamos de orelha em pé. O diferencial, no caso da artista (como colocou muito bem Carlos Eduardo Lima em seu artigo sobre a moça), era que, apropriando-se da música Soul dos anos 70 e de suas variantes, Havas não apostava todas as fichas na vertente mais rápida e dançante do estilo, mas preferia embrenhar-se por terrenos mais “chuvosos e melancólicos”, que flertam com o Folk vindo da mesma época.
Por isso, quando foi anunciado que seu segundo trabalho, Blood, nascia de uma viagem da musicista até a Jamaica em busca de suas raízes sanguíneas, familiares, espirituais e artísticas (e etc, etc.) e contava com parcerias de alto quilate como os produtores e compositores Stephen Mcgregor (grande nome do Reggae e do Dancehall), Paul Epworth (colaborador de Adele), Jamie Lidell, Matt Hales (Aqualung) e Mark Batson (Beyoncé e Alicia Keys), a questão que se formava era: a maturidade de Lianne La Havas estaria apontando para uma guinada em seu estilo musical?
Para o bem e para o mal a resposta é: nem tanto. Seu estilo ainda evoca uma sutileza vocal, um timbre aveludado e melodioso que mantém seu aspecto charmoso mesmo nos picos harmônicos de suas performances. Por exemplo, se Is Your Love… trazia a impressionante No Room For Doubt (um dueto ao lado de Willy Mason), Blood nos traz a pérola sutil e eletrônica Wonderful.
Seu estilo, contudo, caminha para uma complexidade ainda mais difícil de definir. Tem-se falado muito de Neo-Soul ou mesmo Nu-Soul para descrever a sinceridade e a beleza simples das performances de La Havas, um adjetivo derivado de misturas com doses variadas de Soul, Jazz, World Music, R&B, Reggae e Gospel.
Um dos maiores méritos artísticos de Blood é a ousadia. Parece que a assinatura com um grande selo como o Nonesuch (Warner Bros.) e a parceria com nomes do cacife de Prince, Alt-J e Aqualung ao longo de sua trajetória proveram um know how sobre o mainstream para a artista sem minar da mesma a capacidade de experimentar em suas fórmulas sem medo. Sofisticado, Pop, belo e experimental, Blood é um grande marco na carreira da jovem artista, que abandona o posto de “promissora” e assume o status de gente grande.