Ouvir Estilhaça é, independente do seu grau de contato com Letuce, entender o status conceituado que a banda tem no meio alternativo carioca e brasileiro como um todo. Formada pelo ying yang de Letícia Novaes (em interpretações viscerais) e Lucas Vasconcellos (na coragem de lançar simultaneamente mais um trabalho solo), a dupla trabalha aqui mais uma vez sua poesia livre e musicalidade calculada que tanto lhe deu atenção nos últimos anos.
Letuce produz o som que chamamos por aqui de Pós-MPB, ou seja, uma estética contemporânea que leva em conta tanto o que já foi produzido como referencialmente brasileiro, quanto aquilo que cerca o globo hoje em dia – seja isso diretamente na música ou na maneira mista e com grande liberdade de escrever e gravar. No novo disco, dá pra sentir que as escolhas estão sendo feitas de uma maneira mais eficaz para a mensagem ser transmitida, assim como Letícia e Lucas parecem saber priorizar suas melhores qualidades (e o nome disso é “maturidade”).
Músicas como Muralha da China e Lugar para Dois sabem ser carismáticas e amigáveis para quem conhece a banda agora, enquanto composições como Muita Cara tem tudo para ser um dos grandes momentos do show. Dando sequência ao que já foi lançado anteriormente, Mergulhei de Máscara começa com os versos “Essa música não tem nenhuma grande sacada, nem frase de efeito, nenhuma mirabolância” para provar que a ironia sabe o espaço que tem na produção, em letras que sabem beirar o surrealismo (“Todo noite eu arranco meu coração, de manhã ele volta a crescer”, em Lugar para Dois).
Como sempre, Letuce faz um trabalho interessante e cheio de personalidade. Mesmo se você não se identificar com as músias, vale a pena conhecer o disco para entender melhor a música feita no país hoje. E se você já acompanhava a banda, aproveite para ouvi-la em sua melhor forma até hoje.
