Resenhas

Panda Bear – Crosswords EP

Novo EP acena para prevalência da melodia sobre a esquisitice

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Ano: 2015
Selo: Domino
# Faixas: 5
Estilos: Psicodelia, Experimental, Eletrônico
Duração: 21:02
Nota: 3.5
Produção: Sonic Boom

Há pouco tempo, vi um termo preciso para definir o tipo de Psicodelia feito por artistas como Panda Bear, Tame Impala e similares: Psicodelia Sorbet, fazendo menção ao colorido e à consistência gelada da junção entre suco de fruta e água, que são os ingredientes principais da iguaria. Certo, pode parecer meio depreciativo, mas insisto em seu uso. É uma sonoridade/atitude que não exibe o risco comportamental do ancestral piradíssimo e forjado na quentura das lutas culturais dos anos 1960. Francamente, é melhor que não seja pois é um dos méritos de artistas como estes, refletir uma capacidade tecnológico-musical que só existe nos dias hoje, que é produto de uma vida urbana diferente do que havia há 50 anos. Talvez o destino da Psicodelia em 2015 não possa ser distinto e, se ela nos dá estes álbuns e EP’s, como reclamar? Vamos destrinchar então esse Crosswords EP.

Panda Bear, você sabe, é Noah Lennox, que também faz parte de Animal Collective. É uma espécie de doidão triste, contemplativo, ainda mais depois da morte de seu pai, em 2004, uma sombra que nunca foi embora. Seu último álbum, o bom Panda Bear Meets The Grim Reaper ainda reverberava reflexões sobre mortalidade, passagem do tempo e acenava para uma evolução sonora que vinha na alternância de climas, no uso mais frequente de instrumentos convencionais, dosando mais a experimentação com a melodia e alguns parâmetros que só fizeram a música de Noah/Panda soar melhor e mais bem acabada. Este EP é uma prova do quanto ele está disposto a oferecer mais dessa visão, insinuada no trabalho anterior. A partir de Crosswords, a quarta faixa do disco, Panda oferece nova versão, chamada EP Mix, na qual insere alguns elementos borbulhantes e percussivos, não chegando a modificar sensivelmente a canção. The Preakness é outra versão, dessa vez, de canção lançada originalmente em 2011, no álbum Tomboy. Pulsante e com pianos galopantes, é outro exemplo de melodia vencendo esquisitice.

No setor de músicas inéditas, temos No Mans Land, simpática, flutuante, com ruídos em número aceitável, que não impedem a melodia de se estabelecer como força dominante. Cosplay guarda uma estranha semelhança a alguma canção africana perdida num desenho Disney que nunca existiu, deixando para a sensacional Jabberwocky o título de melhor criação do EP, com andamento marcial e galopante, moldado por piano, bateria, baixo e efeitos, que moldam vocais luminosos, meio Arcade Fire, meio Tears For Fears.

O saldo do EP é bastante positivo, produzido novamente por Sonic Boom, que vem pilotando o estúdio para Noah/Panda há algum tempo, talvez uma espécie de eminência parda nessa transição musical pela qual ele vem passando. Boa até aqui.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.