Não é incomum observar grupos que, dentro da consagração de um estilo musical, aproveitam a onda para fazer parte do cenário. Digo isso sem um julgamento moral, afinal, bandas não precisam ser necessariamente oportunistas para se identificar com as propostas – que vão do comportamento até as afinidades sonoras – de um gênero. Muitos músicos, por exemplo, que fazem parte de um mesmo cenário compartilham muito frequentemente a mesma idade e o mesmo estilo de vida.
Todavia, existe um risco alto nessa formatação comum. Alguns grupos mais proeminentes podem acabar encobrindo os neófitos da cena, dadas, justamente, as suas semelhanças. Tendo isso em vista, podemos compreender a situação de Cranekiss com mais facilidade. Não há nada aqui que distinga Tamaryn da imensa onda Dream Pop que vivemos. Praticamente inexistem fatores de destaque na obra da artista neozelandesa. No entanto, à parte esse timing mal sucedido – que acarreta no sufocamento de sua música em meio a tantos outros inúmeros exemplos – não há nenhum fator grave de desclassificação artística na obra da mesma.
Tamaryn não fazia, até agora, parte da onda Dream Pop. Seus álbuns anteriores, The Waves e Tender New Signs, não fugiam radicalmente a seu novo estilo, mas eram ligeiramente diferentes, pertecendo a um universo um pouco mais Dark do Shoegaze. Agora, ainda resiste um aspecto ligeiramente sombrio, mas mais puxado à nostalgia reverb dos sintetizadores do que à angústia das guitarras distorcidas.
Cranekiss executa muito bem sua proposta e suas faixas, e, fora de contexto, funcionam sem entraves com suas sobrecamadas de vozes, sintetizadores, e samples (os gemidos vindos de filmes soft porn em Softcore são uma atração à parte). Infelizmente, lançado quase simultaneamente à trabalhos que são expoentes nas duas vertentes que Tamaryn tenta mesclar- a saber, a melancolia nublada de Beach House e o espírito sombrio de Chelsea Wolfe – Cranekiss acaba perdendo seu potencial.