Resenhas

Ben Folds – So There

Novo trabalho é pequeno clássico do Pop de Câmara

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Ano: 2015
Selo: New West
# Faixas: 9
Estilos: Chamer Pop, Baroque Pop, Pop Alternativo
Duração: 52:00
Nota: 4.5
Produção: Ben Folds

Ben Folds é um pianista muito talentoso, um compositor Pop bastante inspirado e tem, além disso, um fraco por perseguir a perfeição em suas gravações e discos. Talvez ele não tivesse essa preocupação quando lançou o primeiro álbum, à frente de seu trio Ben Folds Five, lá em 1995, mas abriu em plena década do Britpop, do Grunge e da Eletrônica independente, uma possibilidade para resgatar velhas experiências que gente como Brian Wilson havia conduzido em fins dos anos 1960 e que permaneceram mais ou menos intocadas ao longo dos tempos. Talvez Folds fosse – e é – um nerdíssimo músico que busque atenção enquanto critica os maneirismos do mundo moderno, mas suas opções estéticas sempre abandonaram a banalidade, envolveram riscos e, se não lhe renderam fama e fortuna, o credenciaram para grandes expectativas a cada lançamento que faz. Este novíssimo So There não foge a esta regra.

Mantendo a tradição de perseguir o que não é convencional, Folds recrutou o yMusic, um grupo de músicos eruditos de Nova York, e o levou para o estúdio, visando atingir um objetivo bastante ambicioso, o de fazer Pop Sinfônico – algo que parece simples, mas é arriscado, complicado e, salvo raras exceções históricas, ainda não rendeu tudo o que é capaz. Geralmente os artistas derrapam em ambições de assumir posição de compositor erudito, ou banalizam suas canções para inserir contextos múltiplos. Ben Folds quase acerta no alvo, não fosse a inclusão de um concerto para piano e orquestra com mais de 20 minutos de duração ao fim do álbum. Se a opção fosse apenas pelas canções que ele apresenta ao longo do disco, não seria complicado dar nota máxima a So There. Vejamos.

Quando ouvimos a primeira canção, Capable Of Anything, percebemos que as melhores características de Folds estão presentes, a saber, seu piano anarquista e sua voz pós-adolescente. São estes os pilares de sua obra e não ficaram para trás aqui. O andamento é rápido, há a presença do yMusic por toda a faixa, com cordas, sopros, tudo amarrado e seguindo a batuta de Folds, que conduz a melodia com pulso firme, não deixando o clichê de início sutil/explosão no refrão dominar a cena, gerando uma tensão bastante agradável. A próxima faixa, Not A Fan, é uma das belas baladas que Folds compõe desde sempre, sensível, lírica e impregnada de beleza, tudo aqui realçado pelo arranjo e cordas e um andamento de Valsa que parece saído do túnel do tempo. A faixa-título é outra belezura, com contrabaixo marcando o ritmo e chuva fina de instrumentos, tudo ornamentando a estrada pavimentada por voz e piano, tudo a favor da melodia.

Long Way To Go é a mais bela faixa que Folds compõe em muito tempo. Tem um adamento em câmera lenta, diretamente derivado de alguma sessão perdida de The Beach Boys em 1967, com sutileza e ritmo sincopado, tudo ao mesmo tempo, enquanto abre possibilidades para ampliar ainda mais a equação “clássico + popular = novo popular”, que a música Pop persegue desde que existe, numa perene tentativa de ganhar atenção e/ou reconhecimento. Phone In A Pool é outra fofura auricular, que bem poderia estar em sua estreia, caso fosse rearranjada para aquele próximo-distante 1995. Aqui ela está classuda, levada para passear por ambiências de palmas, vocais de apoio secretos e instrumental surpreendente. Yes Man é mais aparentada com o Pop clássico americano do entre guerras, aquela coisa lírica e bela de gente como os irmãos Gershwin e quejandos. O piano é noturno, a voz é sofrida, a letra é um pequeno compêndio de amor não exatamente correspondido e ainda há espaço para uma vista noturna de uma Nova York em silêncio, provavelmente em preto e branco. Uma pulada rápida na quase-vinheta F10-D-A, para chegarmos à última canção I’m Not The Man, mais uma para a conta de Folds nos quesitos beleza e arranjos perfeitos. Logo após, a grande derrapada, o tal Concerto For Piano And Orchestra em três atos, auto-indulgente e desnecessário, mas incapaz de ofuscar o brilho da empreitada.

So There é um primor de disco. É atemporal, ousado, belo e acolhedor em muitos momentos. Às vezes é exagerado, noutras é contido, mas tem a habilidade de retratar fielmente seu autor, humano acima de tudo, que optou por satisfazer-se com ousadia e apreço ao que lhe é familiar, paradoxalmente ao mesmo tempo, com resultados sempre legais. Aqui não foi diferente.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.