Resenhas

Battles – La Di Da Di

Trio instrumental atinge maturidade com seu Math Rock abstrato

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Ano: 2015
Selo: Warp Records
# Faixas: 12
Estilos: Instrumental, Math Rock, Art Rock
Duração: 49:13
Nota: 4.5
Produção: Battles, Keith Souza, Seth Manchester
SoundCloud: /tracks/219043503

Os caminhos sonoros percorridos por Battles em seus três álbuns até agora, assim como seus resultados estéticos alcançados – distintos, porém correlatos -, confundem-se com a própria história de seus integrantes.

A banda, formada originalmente por quatro membros, enfrentou seu primeiro grande desafio com a saída de seu vocalista, guitarrista e compositor Tyondai Braxton. Braxton ocupou um lugar basilar durante o período de Mirrored (o primeiro trabalho do grupo), funcionando como um frontman carismático e também como uma espécie de maestro maluco. Após sua partida, o trio remanescente (formado por John Stanier, Ian Williams e David Konopka) precisou remanejar suas ideias, e, com o lançamento de seu arriscado segundo álbum, intitlado Gloss Drop, provou ao mundo que era capaz de sobreviver per se, mesmo sem a presença tão marcante de seu antigo líder.

A opção de manter o mesmo nome no grupo talvez tenha rendido ao trio o dilema de sempre ser comparado à sua formação inicial e ao nome de Braxton, no entanto, hoje em dia essa estratégia parece acertada, dada a evolução crescente que a banda vem dando a seu “Math Rock marca registrada”.

De qualquer modo, com o lançamento La Di Da Di, Battles parece ter atingido finalmente a maturidade de seu estilo, e, com ela, a identidade própria – e independente – do trio. Digo isso pois se em Mirrored havia o espírito hiperativo e o humor esquizofrênico de Braxton, e, subsequentemente em Gloss Drop as participações especiais (entre vocalistas e instrumentistas) eram o que ditava o tom (suprindo, de certa forma, as carências do trio orfão), em La Di Da Di Battles finalmente resolve-se em si mesma.

Do lado de Ian Williams e David Konopka, a experiência adquirida em suas apresentações ao vivo fez o grupo desenvolver a habilidade na utilização de loops para executar suas malhas sonoras intricadas. Entretanto, o protagonismo é claramente ocupado por John Stanier, o baterista. Não apenas esse instrumento parece ser quem comanda as diversas nuances rítmicas de cada faixa, como também é a ele que ficou reservado uma elaboração técnica muito maior, seja na execução virtuosa do instrumento, seja em sua presença muito mais à frente do que qualquer outro elemento na mixagem geral das faixas deste trabalho.

As capas e clipes de La Di Da Di sugerem misturas aleatórias de elementos que, mesmo não parecendo muito apetitosas, causam um estranhamento envolvente, uma náusea vertiginosa. E é exatamente isso que encontramos em sua música.

Battles, abdicando dos vocais, aproxima-se cada vez mais da abstração sonora em sua música. Estratégia que parece natural, se pensarmos que a definição de seu gênero é “Math Rock”, com estruturas numéricas complexas, incomuns e que não preocupa-se com o apelo Pop nem emocional. Aqui, praticamente inexistem ganchos melódicos, refrões e o envolvimento dos build-ups, tão comuns nas vertentes instrumentais do Rock. Ao contrário, a repetição mecânica tramas cerradas acaba causando o envolvimento quase meditativo do ouvinte.

Entre timbres incomuns de guitarras e teclados que se confundem e a técnica sóbria e apurada de bateria, Battles desenvolveu-se como uma das bandas experimentais mais sérias e interessantes de nossa época e parece, finalmente, ter atingido sua fase adulta.

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BOM PARA QUEM OUVE: Tyondai Braxton, Dan Deacon, Foals
ARTISTA: Battles

Autor:

é músico e escreve sobre arte