Resenhas

Hibou – Hibou

“Estreia” de ex-baterista do grupo Craft Spells tem tudo para se tornar um dos discos do verão

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Ano: 2015
Selo: Barsuk Records
# Faixas: 11
Estilos: Indie Rock, Surf Music, Lo-Fi
Duração: 41:43
Nota: 4.0
Produção: Hibou

Ouvir a faixa de abertura do primeiro disco completo de Hibou é um evento autoexplicativo – passar por Dissolve é a compreensão de sua atração magnética. Peter Michel, ex-baterista da banda “tão interessante quanto” Craft Spells, já havia nos apresentando o excelente EP Dunes em 2013, no entanto um relato maior e mais abrangente era necessário antes de tornar o seu projeto solo relevante.

Influências diversas, como a Surf Music e o Post-Punk, são a base de entrada para um som extremamente ensolarado, aberto e viajante. A combinação de elementos com delay e reverb presente no disco pode ser lugar comum nesse tipo de representação sonora e até mesmo óbvia. Ao mesmo tempo, é por causa dessa obviedade que chegamos ao ponto alto do grupo: Peter tem uma das vozes mais grudentas entre atos semelhantes, como DIIV, Wild Nothing e TOPS. O multi-instrumentista não sente vergonha em capacitar sua interpretação através de doses dopantes de Pop que, por fim, nos fazem incoporar suas melodias e sair cantando por ai.

O álbum carrega os elementos, pelo menos em minha opinião, mais atrativos na Surf Music: sua obsessão com a vertigem sonora e o compasso com a dança. Por vezes, como em Dissolve e Above Us, nos vemos crescendo junto à música ou como um surfista na crista da onda, para depois diminuirmos a ansiedade e nos concentrarmos na dança. Esse movimento vertiginoso é viciante por conta não só de sua dinâmica, mas também pelo gosto de seu líder por riffs grudentes e açucarados a ponto de nos movermos para um ambiente menos claro: o Post-Punk.

Faixas como Sunder (presente em seu primeiro EP), Glow e Keeping Still nos fazem viajar para locais melancólicos e cheios de ecos de bandas como Echo and the Bunnymen e Joy Division. O baixo pulsa com voz própria, existem espaços para respirar e não se perde a vontade em ser acessível e delicioso: se muitas dessas bandas se propõe à letargia, Hibou é uma ode à contemplação de boas melodias. Existe também o Dream Pop, um filho prodigo de ambos os estilos citados. Nele, Peter passa perto de grupos floridos como Washed Out em faixas como Eleanor, mas a sua vontade é alterar entre diferentes estados dançantes. Vallium (também presente em seu primeiro EP) e Shutter Song são feitos para passos curtos e românticos, baseado em riffs cristalinos, enquanto When the Season Ends e Hide Away (momento mais tropical de todo o disco) são feitos para o êxtase coletivo e a dança consigo mesmo de Billy Idol.

Por fim, acabar o disco é uma tarefa regressiva – retorna-se sempre ao mesmo ponto de início, tamanho os efeitos viciantes no ouvinte. Qualquer pessoa que aprecie um dos estilos citados não irá se decepcionar com a verdadeira estreia de Hibou e tenderá, na verdade, a se tornar mais um de seus fãs. Se o disco, por diversas vezes, não procura inovar ou trazer novos elementos para as boas vibrações trazidas por artistas norte-americanos como Beach Fossils, Ducktails ou mesmo Mac DeMarco, é na execução impecável, na voz única e no irresistível flerte com a música Pop que Peter Michel “ganha o ouvinte”. Hibou tem cara de ser o disco do verão tardio do hemisfério norte e iminente em nosso trópico.

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BOM PARA QUEM OUVE: DIIV, Beach Fossils, Wild Nothing
ARTISTA: Hibou

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.