Resenhas

Darwin Deez – Double Down

Terceiro e mais bem acabado álbum do músico é uma belezinha Pop

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Ano: 2015
Selo: Lucky Number
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Pop Alternativo, Lo-Fi
Nota: 3.5
Produção: Darwin Smith

Darwin Smith é um sujeito de 31 anos de idade, natural da Carolina do Norte, mas “hipsterizado” na cena do bairro novaiorquino do Brooklyn. Lá, em meio a toda uma fauna moderninha de músicosartistascultoresmultimídia, ele leva adiante sua pessoal e intransferível obra musical, que deve os fundilhos das calças àquelas canções Pop perfeitas da década de 1970, que tocavam no rádio, apareciam na televisão e que fizeram a delícia de quase todo mundo que a gente escuta hoje em dia. Sim, a velha música de FM anglo-americana setentista ainda é uma bela e abundante fonte de inspiração e esconde tesouros ainda por descobrir. Darwin, à frente de sua banda/projeto Darwin Deez, na qual, basicamente, canta, toca guitarra e programa bateria eletrônica, encarna um simpático cantor/compositor daqueles tempos, devidamente atualizado para nossos dias. Double Down é seu terceiro e mais bem acabado álbum.

Para o gosto pessoal deste que vos escreve, Deez se equilibra numa questão espinhosa, que quase sempre vitima os artistas: o binômio tradição x modernidade vazia. É a mesma habilidade em lidar com este dilema que deu a Beck a pole position dos anos 1990 na hora de misturar melodia, senso Pop e informação com modernidade, eletrônica e urgência. Se ele obteve êxito para emergir daquele tempo como um dos mais importantes artistas da música planetária, foi por seu apreço pela melodia e estrutura das canções. Darwin tem ainda mais apreço por essas convenções e, ao mesmíssimo tempo, soa moderníssimo, irreverente, informal e parecendo um mix de contador de histórias com aquele amigo doidão da sua faculdade. Apesar de tudo isso, o que fica mais marcante do trabalho do sujeito é a sua habilidade para criar melodias assoviáveis e redondinhas.

A abertura com Last Cigarette tem dois minutos e meio, refrão pegajoso, guitarrinha insistente, letra sobre amor, tudo leve como uma lufada de vento da tarde nos nossos rostos. The Mess She Made abre com um verso sintomático “some of my best friends are girls”, que abre caminho para uma bela melodia e um instrumental que soa como feito no quarto depois do almoço, mas que seria brilhante se uma banda de verdade tocasse no estúdio, ou, melhor ainda, no palco. Aliás, o eixo The Beatles-Big Star, o mesmo que forneceu formações vitoriosas como Teenage Fanclub ou Fountains Of Wayne, é o mesmo que dá estabilidade às criações de Darwin. Ele esbanja domínio do idioma dos três acordes em Lover, que vem com melodia invocada e arranjo quase esquisito demais, mas Time Machine, exuberante e com cara de quem acordou há pouco, reflete sobre o vai e vem do Tempo, lamentando a ausência da pessoa amada. Bag Of Tricks é arejada, com barulhinhos aqui e ali, lembrando alguma coisa recente de Phoenix, com uma espécie de revestimento acrílico-melódico. Rated R é uma engraçada simulação de elementos de Rock um pouco mais pesado, mas que surgem processados nessa centrífuga estética, devidamente enquadrados na lógica do álbum.

Melange Mining Co. tem fluência na encruzilhada Soft Rock/Funk da virada dos anos 1970/80, elegante na medida do possível, mas polida e bem feita que dá gosto. Kill Your Attitude foi a primeira canção a ser lançada, com desenvoltura total nos melhores convescotes do Powerpop ancestral, mas com cara de novinha. The Other Side é uma espécie de AOR para quem concluiu seu curso online de ourivesaria Pop, enquanto Right When It Rains tem um fio condutor de guitarra bem simpático e arranjo que privilegia a alternância de climas amargos e doces ao longo da canção. O final vem com a brejeira The Missing I Wanna Do, com bateria de brinquedo, teclado que poderia ser programado num daqueles relógios digitais dos anos 1980 e a aura de feito em casa/feito pra durar que permeia todos os cantos do álbum.

Darwin Deez é um cidadão do seu tempo, senhor da noção de efemeridade na música do mundo hoje e não tenta subverter isso, mas procura conferir ares de inesquecíveis às suas canções, inserindo-as num contexto de música Pop de inconsciente coletivo. O resultado é esse pequeno compêndio de confusão entre eterno e efêmero, que teima em acariciar o ouvido da gente. Só nos resta aproveitar.

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BOM PARA QUEM OUVE: Phoenix, Beck, Toro y Moi
ARTISTA: Darwin Deez
MARCADORES: Lo-Fi, Pop, Pop Alternativo

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.