Resenhas

Chris Walla – Tape Loops

Disco solo do ex-guitarrista do grupo Death Cab For Cutie aposta na música ambiente

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Selo: Transrecords
# Faixas: 5
Estilos: Ambient, Eletrônico, Instrumental
Duração: 38:58
Nota: 3.0
Produção: Chris Walla

Uma primeira audição de Tape Loops pode causar certo desapontamento aos mais desavisados. Explico: Chris Walla, ex-guitarrista e fundador do grupo Death Cab For Cutie, em seu primeiro álbum fora da antiga banda (e segundo em sua carreira) resolveu dar asas a seu lado de produtor e músico preocupado com texturas e climas. Essa visão da música permeia as cinco faixas do novo trabalho de Walla, totalmente criadas, executadas e gravadas como se ele estivesse sob a influência de Brian Eno em sua fase mais aventurosa, em meados dos anos 1970. Quem esperava um disco de guitarrista vai ter que esperar um pouco.

Para fãs mais antenados e cascudos de Death Cab For Cutie, entretanto, o movimento de Chris neste trabalho não há de causar tanta surpresa. O sujeito, mais que guitarrista, é um bom produtor musical, assinando os trabalhos da banda desde sempre e pilotando o estúdio para gente legal como Nada Surf, Tegan And Sara e The Decemberists, sempre conferindo certa profundidade às ambiências das canções, com uma visão atmosférica da coisa, algo próximo do que Daniel Lanois, produtor e discípulo de Eno, responsável por trabalhos de Bob Dylan, Neil Young e uma carreira solo bem interessante desde os anos 1980. Walla não é Lanois, evidentemente, que tem mais jogo de cintura e, mais que tudo, experiência em colocar sua visão no estúdio a serviço de uma abordagem mais subjetiva. Quando Walla, entretanto, participou, em 2003, de Give Up, disco de The Postal Service, projeto paralelo de seu companheiro de grupo, Ben Gibbard, colocou à prova seu talento de produtor, além de tocar guitarras e teclados por toda parte, a serviço de um álbum essencialmente eletrônico, mas que, paradoxalmente, soava “orgânico”. Eram músicos no estúdio, usando elementos digitais, mas como instrumentos convencionais.

Essa experiência dá a tônica de Tape Loops. São cinco faixas de música dita ambiente, feita a partir de colagens e gravações analógicas, trazendo apenas os experimentos de Chris com timbres e sons esparsos. Seria mais interessante se houvesse algum conceito além, que não significasse apenas o convite do sujeito para que o ouvinte adentrasse uma faceta introspectiva e serena dele. São pequenas pinceladas sonoras, que testam o espectro auditivo, dando a impressão de uma paisagem triste, contemplativa, praticamente melancólica. Com duração que vai de quase quatro minutos (I Believe In The Night) à casa dos 11 minutos, como em Goodbye, as canções trazem, quase de maneira subterrânea, alguma polidez de timbres e acabamentos que surgem na obra de Death Cab For Cutie, especialmente a partir do álbum Transatlancism, de 2005.

A opção por essa abordagem minimalista, porém reveladora, confere a Chris Walla um grande crédito e maturidade como músico/produtor. Seja em sua banda anterior, seja emprestando ideias a outros artistas, o sujeito conseguiu algo bem difícil em tempos imediatistas: forjar uma identidade. É possível ouví-la por todos os cantos de Tape Loops.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.