Resenhas

Deerhunter – Fading Frontier

Novo álbum da banda americana tropeça na mistura de influências

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Ano: 2015
Selo: 4AD
# Faixas: 9
Estilos: Rock Alternativo, Dream Pop, Art Rock
Nota: 3.0
Produção: Ben H e Deerhunter

Se Deerhunter tinha (ou tem) fama de ser aquele tipo de banda praticante duma sonoridade “difícil”, “complicada” ou algo no gênero, isso fica em xeque com este novo trabalho. Não que a simplicidade perpetrada pelo grupo da Georgia (EUA) seja sinônimo de banalidade, pelo contrário. O vocalista Bradford Cox e seus cupinchas resolveram mergulhar – às vezes apenas molhar as canelas – nos mares cálidos do Rock oitentista, mas não apelam para as obviedades que este movimento pode trazer. Em vez de abusar do Synthpop ou reeditar este ou aquele artista daqueles tempos idos, Deerhunter se apropria de texturas e crocâncias sonoras mas não esquece de pincelar com algumas pitadas de sua complexidade habitual, com um resultado bem legal na maioria das vezes. Da metade para o fim, surge a impressão de que algumas gravações esbarram numa aura Lo-Fi fora de contexto, comprometendo o desempenho do disco.

Há teclados épicos por todos os cantos de Fading Frontier, expressão tirada do single Living My Life, que começa com uma introdução emulando um órgão de igreja, para ser invadida por barulhinhos eletrônicos e percussivos e a voz esparsa de Cox (e do guitarrista Lockett Pundt em alguns momentos ao longo do álbum) propõe um caminho levemente tortuoso, no sentido rítmico do termo, mas prazeroso e cheio de alternâncias. A faixa de abertura, All The Same é puro Pós-Punk com guitarras à beira mar e um clima de chuva torrencial permanente em algum cafundó da Inglaterra e não da calorenta Atlanta, berço do grupo e cidade bem ao sul dos Estados Unidos, logo, incompatível com essa melancolia, esse banzo fluido e pluviométrico, mas legitimado em som pelos sujeitos.

Breaker, o outro single do álbum, é uma belezura de canção com guitarrinhas subrreptícias e uma levada que tangencia o Funk de branco que gente como Talking Heads costumava fazer por aí. Mesmo com essa referência, novamente as guitarras chorosas dão o tom de contraponto, evitando qualquer referência exagerada. A mistura de tonalidades novamente salva Deerhunter de alguma xerocópia pura e simples.

Duplex Planet é luminosa, com sonoridade que mistura vocais entediados e instrumental claro como a chuva indo embora, abrindo o caminho para Take Care, minimalista, climática, moderna, mas lidando com uma linha melódica triste e com cheiro de canção dourada lá dos anos 1960. O instrumental acrílico e em crescendo dá a dramaticidade e contraste necessários para a belezura da canção. Leather And Wood é intencionalmente rascunhada e cheia de ambiências de incompletude, com sussurros e vocais que parecem gravados sem qualquer preparação. Snakeskin evoca uma linha de guitarra/baixo que convida para uma dança meio chapada e sem noção em algum lugar da noite, quase manhã. Ad Astra é eletrônica e estranha, com ecos, efeitos e teclados ocasionais, com a voz de Cox pairando no fim do caminho. O fecho com Carrion é mais formal, ainda que aquela impressão de rascunho sonoro permaneça por tempo demais ao longo dos quase três minutos da canção.

Fading Frontier fica como uma boa declaração de intenções e potenciais, mas já sabemos que Deerhunter não é uma dessas bandas que se acomodam ou repetem fórmulas. Em sua tentativa de equilibrar essa inquietação com a vontade de fazer um álbum mais contemplativo, a banda esbarra levemente nas dosagens da receita, ainda que tenha registrado aqui belas canções.

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BOM PARA QUEM OUVE: Panda Bear, Ty Segall, Real Estate
ARTISTA: Deerhunter

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.