Resenhas

Flea – Helen Burns

O baixista da Red Hot Chili Peppers impressiona em primeiro EP solo, resultado de uma temporada em um conservatório de música

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Ano: 2011
Selo: Warner
# Faixas: 6
Estilos: Eletrônico, Jazz, Fusion Rock
Duração: 26:07
Nota: 4.0
Produção: Flea

Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers. Dispensando apresentações, o músico disponibilizou o seu primeiro álbum solo via internet, no esquema “pague o quanto achar justo”, popularizado pelo Radiohead com o seu In Rainbows de 2007. Foi gravado junto ao The Silverlake Conservatory of Music, conservatório de música sem fins lucrativos no qual Flea estudou no hiato de cinco anos entre os dois últimos trabalhos dos Chilli Peppers e que iniciou o músico em outros instrumentos, como o piano clássico. Seu primeiro EP solo, Helen Burns, é surpreendente pelas referências utilizadas, pelos diversos instrumentos tocados por Flea e por ter um som totalmente diferente do grupo-mãe do músico, algo que também aconteceu recentemente com o ex-guitarrista da banda, John Frusciante.

Com o play dado no álbum, o que se escuta de cara é um jazz composto com Flea no contra-baixo, um piano minimalista e sopros de metais aparecendo aos poucos. Entretanto, um olhar mais atento denuncia uma frequência que vai aumentando aos poucos, sempre presente na música aumentando o seu tempo, e que aos 2:51 muda totalmente o ritmo da composição, transformando o minimalista em progressivo, o contra-baixo em baixo e o sopro por sintetizadores, mas sem perder a unidade da música instrumental. Essa era 333, música colocada de cara no EP e que, em 8 minutos, não tinha nada de Red Hot, mas muito de Flea.

Pedestal of Infamy é lenta, com um flauta onírica e ainda uma pegada jazz, mas que, ao longo da música tem elementos eletrônicos incorporados aos poucos. Relaxante, tem um ritmo marcante e consegue dizer várias coisas mesmo sendo só instrumentada. Nela, é possível ver o quanto Flea colocou do conservatório na música, com corais quase imperctíveis, órgãos e a já dita flauta – linda, por sinal. A Little Bit of Sanity tem um piano clássico, mas composto de forma progressiva, e em seu pouco minuto e meio deixa o ouvinte pilhado e querendo mais.

Helen Burns é a única música baseada na voz, e não qualquer uma, a de Patti Smith. Composta no piano, com acordes bem marcados, cabe perfeitamente no EP com seu clima melancólico e calmo e em sua letra dizendo “I am in love with everything, you will see my face again”. Talvez um EP que mostre o amor de Flea pela música e por tudo que aprendeu no conservatório.

333 Revisited, como o próprio diz, é uma nova visão para a mesma música. Nela o clima jazz volta no começo, mas dessa vez com uma escaleta (o teclado de assoprar), dando o tom para uma música que aos 2 minutos muda totalmente, assim como em 333. Dessa vez vemos os sintetizadores criando uma atmosfera mais espacial e eletrônica, lembrando algumas experimentações feitas pelo Daft Punk em seu CD Discovery de 2000. Ao final, o piano volta, junto com teclado, dando um toque mais dramático à música. A orquestração apesar de muito boa, escorrega justamente bem no final da faixa, o que não chega a ser comprometedor em seus 7 minutos e meio.

Lovelovelove significa tudo o que seu título diz – o amor. Calma, com uma belíssima linha de baixo de Flea, bateria de Chad Smith do Red Hot, introduz uma guitarra com um riff que parece que está querendo dizer algo, talvez o próprio sentimento. Na metade da música, se vê o que ela estava querendo dizer quando um lindo coral de Silverlake entra para cantar. Daí pra frente, é quase abraçar os amigos e cantar. Uma bela forma de acabar o disco.

Em seu primeiro EP, Flea demonstra o seu amor pela música e seus diversos ritmos e acaba criando, com o auxílio de todo o aparato sonoro do conservatório, um trabalho com os pés na música clássica, mas com toques muito mais modernos. Um Flea que não conhecíamos, mas que agrada – e muito.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.