Otis Jackson Jr. é um exemplo para todos os produtores de Hip Hop. Seu estilo particular de busca por samples e tratamento de faixas tornou-o uma referência na música nos últimos quinze anos. Trabalhos colaborativos com grandes nomes, como MF Doom no ótimo Madvillany e, mais recentemente, Piñata com Freddie Gibs, se tornaram clássicos contemporâneos. Pode-se dizer que o rastro que o ícone J. Dilla deixou com seu trágico falecimento é acompanhado por Madlib, e sua discografia, que abrange do Jazz ao Samba (todos incorporados sob a forma de batidas), é uma fonte inesgotável de referências para novos músicos e produtores.
A recepção calorosa de críticos com Piñata acabou inevitavelmente animando os ânimos de Madlib. Como resposta, ele se uniu novamente a um dos nomes mais interessantes do Hip Hop atual, Blu (dono de Good to Be Home (2015)), para criar mais uma obra icônica: Bad Neighbor, a evolução do que a parceria havia mostrado no EP The Burgundy (2011). É o disco que consolida a união sob o nome de MED e surge como sopro de nostalgia a um estilo que está olhando pra frente em uma velocidade impressionante e que encontrou seu melhor momento em muito tempo em 2015.
No entanto, o gosto rústico do passado e atmosfera ensolarada da costa oeste dos EUA são os elementos que trazem charme à obra como um todo. Madlib é o verdadeiro “caçador de vinis” e seus samples aqui surgem de obras obscuras de Funk norte-americano e R&B. Podemos sentir o vinil clicando em batidas como as de Serving, com Hodgy Beats, ou as da psicodélica The Stroll. Ao mesmo tempo, suas produções não passam somente pelo estilo antigo de samplear discos antigos, mas também pela manipulação do audio para torná-lo outra coisa. A excelente Knock Knock, com MF Doom, transforma uma faixa dançante antiga ao mudar o pitch e acrescentar efeitos de phaser ao trecho. De longe, um dos melhores momentos do Hip Hop no ano, a canção é o cartão de visitas a Bad Neighbor.
A sensação do começo ao fim é que temos Madlib e Blu mixando faixas em uma batalha de MCs, enquanto outros artistas estrelados aparecem para participar. Se os já citados não chamam atenção, saiba que The Strip, com o jovem talento Anderson Paak (rapper que apareceu no ótimo disco de Dr. Dre), vai figurar entre as melhores músicas de 2015 e será ouvida à exaustão em carros conversíveis na costa oeste norte-americana. Finer Things e Burgundy Whip não existiriam sem Piñata e são claras evoluções da obra colaborativa anterior de Otis Jackson.
O desaparecido Aloe Blacc retorna em uma participação viciante em Drive In enquanto o cantor Mayer Hawthorne coloca todos para dançar na faixa final, a ótima The Buzz. Se algumas escolhas estéticas podem incomodar alguns, como o baixo velado ou vozes “baixas” em alguns mixes, saiba que são tais elementos que tornam Bad Neighbor um disco para se guardar para qualquer momento. A vontade em soar antigo é bastante correspondida e o disco pede para ser ouvido em vinil, pois a sua mixagem parece ter sido feita exatamente para o formato. Assim como outras parcerias parecem tornar Madlib ainda maior, MED é uma frutífera colaboração com Blu e pede por mais lançamentos constantes, para pegar o bom rastros que ambos artistas estão vivendo nos últimos anos.
