Resenhas

Made Of Oak – Penumbra

Projeto paralelo de Nick Sanborn exibe tons cinzentos de Eletrônica

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Selo: Partisan
# Faixas: 5
Estilos: Experimental, Eletrônica, Lo-Fi
Duração: 19:31
Nota: 3.0
Produção: Nick Sanborn

Pode passar despercebido pra muita gente, mas um dos grandes benefícios do fim da indústria musical como ela era até meados da década passada é a total liberdade para que músicos possam gravar seus vários projetos paralelos e deixá-los virem à tona de forma, digamos, comercial. Mais ainda: com o fim daqueles parâmetros todos, é possível que fãs do mundo inteiro ouçam essas sonoridades “não-oficiais” com mais facilidade. Este é o caso de Nick Sanborn, produtor, ser multitarefas e metade do duo Sylvan Esso, que está lançando Penumbra, seu primeiro EP com o nome Made Of Oak.

E o que está rolando por aqui? Beats torturados, nuances agridoces que vêm e vão no zênite, sentimentos sombrios abortados pela consciência, você pode dar o nome que quiser a esta melancolia pós-moderna que sai das cinco faixas gravadas por Sanborn. É um trabalho muito mais voltado para texturas, timbres e impressões, como se fosse alguém pintando uma aquarela, mas só usando tons razoavelmente sombrios. Enquanto vai desfilando suas canções sob este clima sem muitas cores, Sanborn vai enfiando aqui e ali alguns ruídos, sons e imagens que não são musicais, mas que compõem bem o cenário urbano e estéril que ele intencionalmente ergue. O resultado faz sentido.

A faixa-título inicia o percurso como se fosse alguém hesitando sair de casa após um longo tempo de reclusão, talvez experimentando um desses momentos em que não queremos muito contato com o meio ambiente fora do nosso controle, sem querer ver gente, apenas pensando que o mundo é algo passível de controle. Ao longo da canção, percussão indistinta, sons de sinos de vento, algo bem sensorial e sutil. Pinebender chega em seguida, totalmente eletrônica e contemporânea, com timbres saturados e frágeis ao mesmo tempo, numa espécie de gentil pesadelo, alternando inflexões e fraseados. Side Rides, logo após, é um pequeno e controlado caos eletrônico, como se alguém tentasse, a todo custo, colocá-lo em ordem e extrair melodia e harmonia dali, com relativo sucesso às vezes. Penultra (When I See You) é conduzida por um clima que se insinua sob um ruído preponderante de estática, que vai sendo vencido aos poucos. Até o primeiro minuto, a melodia em câmera lenta se instala e passa a dar as cartas. O fecho vem com Blue Zipper, com sons de respiração, pulso e batidas de coração, como se alguém fizesse um check up de rotina num robô aleatório na fila do SUS.

O resultado deste EP de Made Of Oak atesta a capacidade e versatilidade de Sanborn, imerso em seu estúdio portátil, informal, instalado num cafofo modernoso em algum lugar da grande metrópole global. É meio Blade Runner de dia, meio Admirável Mundo Novo para crianças, mas é interessante.

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BOM PARA QUEM OUVE: Chris Walla, Jamie xx, Caribou

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.