Resenhas

Grimes – Art Angels

Quarto disco da canadense surpreende por sua reinvenção dentro do terreno Pop

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Ano: 2015
Selo: 4AD
# Faixas: 14
Estilos: Pop, Pop Experimental
Duração: 49"
Nota: 3.5

A cantora canadense Grimes engrossa a lista daqueles fenômenos midiáticos dos anos 2010 que explodiram da noite pro dia com um disco que parecia agradar gregos e troianos. O culpado disso foi Visions, seu terceiro álbum, lançado em 2012. Ele foi o grande responsável por tirar a artista de um obscuro meio underground e catapultar sua carreira a lugares inesperados, fazendo-a chegar a grandes festivais, rádios Pop e prateleiras das mais diversas lojas. Tudo isso, talvez, graças à personalidade interessante que ela se mostrava na época; talvez, graças à qualidade de singles como Genesis ou Oblivion. Talvez, as duas coisas.

Volto a reforçar o caráter Pop da música de Grimes, pois esse é fio condutor de Art Angels. Passaram-se três anos do lançamento de Visions e, desde então, parece que o repertório popular da artista só aumentou. Esse me parece um disco que desconstrói uma série de sub-estilos para depois remontá-los e rearranjá-los das mais variadas formas. O resultado, se não é inovador, é pelo menos muito inventivo. E esse é o grande trunfo de Grimes e o que torna tão interessante a experiência de ouvir seu novo disco. Soma-se a isso suas peculiaridades, que aqui parecem ser levadas a pontos ainda mais extremos, e, pronto, a cantora está mais uma vez no centro dos holofotes da mídia e dos fãs.

Toda essa atenção pré-lançamento a fez descartar quase um álbum todo por conta da má repercussão do single Go, que acabou por ficar de fora de Art Angels. O interessante é notar que a proposta da faixa continua presente no espirito Pop do disco, mesmo que não tenha entrado em seu recorte final – e basta ouvir faixas como Kill V. Maim ou Artangels para perceber isso. Go foi não só o ponto da disrupção de Grimes com seu trabalho anterior, como também o ponto de partida para um incremento em peso, gama de combinações e até mesmo suas “estranhezas”. Se Visions mostrava ainda um som bastante ligado a um Dream Pop bem Lo-Fi, a artista leva aqui sua música para outro patamar em méritos de produção e de suas aventuras sonoras.

E isso se mostra nas já citadas Kill V. Maim e Artangels. Na primeira delas Grimes usa bastante do potencial de sua voz, chegando às vezes a gritar ou cantar em tons mais altos, em cima de batidas pulsantes e melodias extremamente animadas. A segunda, por sua vez, parece interagir as guitarras do Britpop com as batidas de um Pop radiofônico moderno, criando algo muito fresco e dançante. As demais faixas se permitem experimentar com outras tendências e estilos sem medo de arriscar. Pin adiciona um toque psicodélico ao Pop mostrado até então, Realiti mostra-se como um desdobramento da música dançante dos anos 90 em algo à la Ellie Goulding, Venus Fly (com a participação de Janelle Monáe) busca algo próximo aos batidões de Diplo ou Major Lazer, enquanto Butterfly fecha o disco com algo mais amigável às pistas e bem fácil aos ouvidos.

Toda essa variedade de estilos gera no disco a sensação de se estar em uma montanha-russa cheia de seus altos e baixos. Essa mobilidades gera algumas ótimas boas surpresas, mas também outras que não agradam tanto. Algumas dessas decepções vem com faixas como Flesh Without Blood, que mais parece paródia do que Grimes já fez com uma grande dose de inspiração em Charli XCX (em seu segundo disco, Sucker). Belly of The Beat sofre do mesmo problema, enquanto Easily perde-se em uma balada ao piano que foge completamente de tudo o que tinha sido apresentado até então – estar localizado no meio do álbum também confere a música o papel de quebrar seu ritmo.

Art Angels pode não agradar públicos tão diversos como Visions, mas certamente dá um passo adiante em relação a ele. Nele, Grimes se arrisca e leva sua criação para lugares bem diferentes e ainda mais interessantes, ainda que tropece em alguns momentos. Esse é um disco bastante corajoso para alguém que se estabeleceu com um som construído em bases mais artificiais, um disco, um desafiador, seja para sua autora, que teve de reconstruir, ou ouvinte, que se depara com algo inesperado e cheio de novas referências.

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BOM PARA QUEM OUVE: Madonna, Charli XCX, Ellie Goulding
ARTISTA: Grimes
MARCADORES: Ouça, Pop, Pop Experimental

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts