Resenhas

Nunes – Nunes

Sentidos aguçados levam jovem artista a compor sobre novas experiências de forma madura

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Ano: 2015
Selo: Independente
# Faixas: 6
Estilos: MPB Pós-MPB Lo-FI
Duração: 20:45
Nota: 3.5
Produção: Filipe Mariz
SoundCloud: /tracks/233322035

Já diz meu avô: quem toca um violão nunca está sozinho. Essa frase me veio da memória após ouvir algumas vezes este trabalho homônimo de Phylipe Nunes, um bilhete de passagem ao quarto habitado pelo músico, seu caderno com anotações de pensamentos íntimos e o violão que os canaliza em forma de música e poesia cantada.

Começar a escrever sobre sua música observando a pouca idade do artista (dezesseis anos – Star Wars Episódio I estava sendo lançado, pense nisso) é, ao meu ver, uma injustiça tremenda, pois suas canções são o que são pelo potencial artístico que ele tem, e não pelo o que ele consegue fazer apesar dos poucos anos de vida. É comum comentários elogiosos a artistas jovens – Alessia Cara e João Montanaro, entre outros, estão aí para não me deixar mentir – talvez porque gostemos de acreditar na ideia de um talento nato ao invés de uma habilidade que pode ser aprimorada ao longo dos anos, com o devido suor que vem do estudo e da prática. O que acontece quando escuto alguém como este menino é imaginar onde ele pode chegar sendo que já parte de um ponto tão adiante na jornada de auto-conhecimento necessária à qualquer artista, uma vez que parece ter acesso e compreensão diretos aos seus sentimentos.

Se há algo em que os dezesseis anos são um trunfo verdadeiro, porém, são quando os temas recorrentes à fase são matéria-prima às composições, já que paixões, sentidos e compreensão do mundo à sua volta ganham comentários raramente tão lúcidos se os compararmos aos que ouvimos de outros jovens da mesma idade. Frases como “Eu sei, seus olhos me cegaram e me fizeram chegar até aqui” e “Lembro teu sorriso toda noite, lembro o gosto que a saudade tem, lembro a casa amarela, o pé de manga, lembro o gosto que a manga tem”, que normalmente poderiam nos remeter à ideia romântica da inspiração de um artista que viveu diversos amores intensos, neste caso nos faz imaginar se são versos que o garoto sequer chegou a declarar a pessoa que os inspirou.

Abrir tais pensamentos tão pessoais ao mar de pessoas e comentários sem fim que podem se deparar com eles através da Internet talvez seja tão intimidador quanto a ideia de sair de casa sem roupas – ou, talvez, seja uma ideia divertida, afinal, tudo nos garante que falta de maturidade não seja uma característica que habite o mesmo quarto de Nunes. O que desperta a curiosidade sobre o que o futuro trará é, após o convite à estranhos para a aproximação de experiências tão íntimas, se elas continuarão sendo fruto para versos tão preciosos exatamente por até então serem secretos. Para nós é fácil, é só esperar e não perder a fé no artista que estará mais velho, mas, não por isso, menos interessante.

(Vale lembrar que Nunes está presente no coletivo The Mozões, uma chance de conhecer um pouco mais sobre ele além das seis faixas deste EP.)

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ARTISTA: Nunes
MARCADORES: Lo-Fi, MPB, Pós-MPB

Autor:

Videomaker, ator e Jedi