Existe uma diferença básica entre Green Language, segundo disco de Rustie, lançado no ano passado, e EVENIFUDONTBELIVE: Autoridade. Enquanto o seu trabalho anterior impressionava nas diversas aparições especiais (como Danny Brown e Redinho) e em seu dinamismo Pop, seu álbum surpresa se propõe a manter-se fiel ao som que o lançou ao mundo. O resultado final acaba sendo ambíguo, pois temos composições interessantes e obsessivas que certamente podem cansar o ouvinte em um ambiente menos noturno ou festivo.
Nada de “featurings” – todas as músicas são assinadas e executadas por Rustie – um desejo que talvez signifique a fuga do apelo massivo de seu disco anterior. A figura central de seu terceiro disco logo se mostra o Trap, sem tanto foco nos drops de batidas, mas sim nas costumeiras progressões explosivas do produtor. O subgrave, obviamente, tem presença marcada aqui, mas é apenas um elemento a mais para justificar sintetizadores hipnotizantes e frenéticos em faixas como Death Bliss ou Morning Starr.
Frequências médias-agudas presentes nas composições de Rustie nunca foram novidade para ninguém e foi o seu gosto por sons mais alegres e verticais que o transformou em um respeitado produtor de Trap. Inevitavelmente, é diferente do que o senso comum do estilo se propõe, e por isso, chama atenção. No entanto, o que agrada mais acaba sendo os momentos em que o escocês se permite experimentar mais, como nas psicodélicas New Realm e Coral Elixrr e na progressiva e gamística Emerald Tabletz – de longe, uma de suas faixas mais inventivas e completas.
First Mythz é outra faixa que chama atenção em seu BPM elevadíssimo e inesperado, sendo provavelmente ainda mais interessante quando escutada ao vivo. Ao mesmo tempo, mesmo se sustentando em mais algumas boas canções (como Atlantean Airship ou a excelente e expansiva Peace Upzzz), o disco acaba se voltando a suas próprias estruturas e enjoa com facilidade. Para quem já ouviu alguma coisa de Rustie, EVEN é a grosso modo uma repetição de temas sem tanto sabor que se tornam obsessivos ao longo de quinze atos.
Se sua produção continua refinada e autoral, não podemos dizer o mesmo das composições que se mostram um tanto monotemáticas e paradoxalmente chocantes pelo frenesi que causam – deixam o ouvinte eufórico, mas também confuso. O futuro do escocês talvez tenha que ser menos óbvio do que ele imagina pois o impacto sonoro de sua amplitude sonora extrema pode não ser o bastante.