João Carvalho é um Sentidor. Não só por nomear seu projeto eletrônico experimental com este nome, mas por realizar o sensível ato de “sentir”. Natural de Minas Gerais, o abençoado estado dos poetas, o músico e compositor tem uma relação muito profunda com a música Eletrônica que já é de longa data, fato que lhe rendeu excelentes trabalhos, como Canções Para Chamar De Lar, de 2012.
Como dito, João sabe o que é sentir, mas, acima de tudo, sabe como transmitir integralmente sentimentos para suas composições, que namoram com a Chillwave ao mesmo tempo que pegam vários elementos de música Exeperimental. Seu novo trabalho, Dilúvio, não parece apresentar nada além do que já sabemos sobre o mineiro, mas essa ingenuidade nos deixou totalmente despreparados para imergir em um dos retratos mais densos e complexos da mente humana que já ouvimos em forma de um álbum.
Dilúvio não é um disco feito para outras pessoas. É um processo de respiração e um alívio para João, que se refere ao processo de composição como um “registro exterior de uma época difícil vivida internamente”. Os diversos sentimentos que ele enfrenta para superar suas questões (que nos são desconhecidas) são desconstruídos e transpostos em música: desde a aflição da incerteza, à náusea do existencialismo, passando pelo caos lúcido e a harmonia do complexo. Não é um trabalho simples e as sucessivas tentativas que fazemos para decifrar o fluxo de sonoridades inconstantes é o que torna Dilúvio um trabalho completo por excelência. É um abstrato que, ironicamente, nos dá a concreta certeza de estarmos vivenciando o mundo de João.
Sentidor é um poeta em sua mais pura forma, que desconhece os limites da criação ao reinventar novas maneiras de se expressar a cada disco que passa. Não é possível afirmar que este é o seu auge, pois, até então, construímos um gráfico de uma reta sobre o quesito qualidade e o futuro pode nos revelar ainda mais surpresas sobre sua pessoa.
Um trabalho que reflete a mente se seu criador: complexo.
