Sonto é César Lacerda, Luiza Brina (Graveola e o Lixo Polifônico) e Pedro Carneiro, uma parceria de amizade e criatividade que culminou em um lindo EP de seis faixas gravadas em 2011 com grande coesão e qualidade.
O projeto parece reger-se por uma trindade muito específica de características: ser brasileiro, ser experimental e ser contemporâneo. Os três elementos estão juntos a favor de uma música envolta em uma aura mística e de comunhão de timbres – seja os das vozes, dos violões ou do que mais aparecer no mesmo espírito.
Seu sincretismo revela-se também ao cantar sobre santos e Iemanjá, enquanto Dorival Caymmi reforça o elenco de elementos brasileiros ao ter seus temas revisitados em Pra Não Dizer. Suas linhas tortas em cada faixa, travestidas de uma charmosa metalinguagem que aproxima o ouvinte dos intérpretes, revelam sem medo o caráter inventivo com que a obra foi feita.
Mesmo quando o som da TV ligada te faz pensar que já ouviu esse recurso vezes demais para considerá-lo “experimental”, a beleza gerada pelo tratamento dos arranjos e pela produção garantem não só o merecimento de atenção de Sonto, mas também de sua vontade de ouvir o disco diversas vezes – assim como a vontade de já ter desfrutado da obra há muito tempo.