Resenhas

Daughter – Not To Disappear

Segundo disco perde um pouco da essência original de trabalhos anteriores

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Ano: 2016
Selo: 4AD
# Faixas: 10
Estilos: Post Rock, Ambient Pop, Pop Alternativo
Duração: 47:03
Nota: 3.0
Produção: Daughter e Nicolas Vernhes
Itunes: https://geo.itunes.apple.com/us/album/not-to-disappear/id1044469068?mt=1&app=music

Ouvir Daughter é solucionar um mistério. Mais do que é isso, é desvendar as particularidades de uma banda que, em dois EPs e um disco de estúdio, foi capaz de criar algo que alguns artistas demoram anos para estabelecer plenamente: autenticidade. Classificado quase sempre como Post Rock, o som do grupo rendeu a atenção que tem hoje tanto por mesclar melodias vocais Pop ao grande apelo epifânico das linhas instrumentais, quanto por ser o único e melhor representante da estética sonora que propôs, principalmente em If You Leave. Uma banda madura e que se encontra em um momento decisivo em sua carreira: o teste do segundo disco, uma prova concreta de seu talento ou de que este sucesso foi um faísca que se apagou. Pois bem, chega o momento de apreciar Not To Disappear e, junto dele, um sentimento misto de amor e apreciação.

O segundo trabalho da banda é frágil, tanto em sua sonoridade quanto em sua concepção. Temos novamente uma preocupação nítida em transmitir uma sensação de pura melancolia, porém agora com toques mais ousados, principalmente no que tange a inserção de batidas e efeitos mais Eletrônicos e menos Folk, como em registros anteriores. Numbers brinca com efeitos de compressão se assimilando muito à canções do trio inglês [The xx](http://wordpress-214585-650819.cloudwaysapps.com//artistas/787/the-xx/, How tem um riff de guitarra quase que Dream Pop, meio The Drums e Fossa é uma interpretação morriseyana de sonoridades do Post-Punk. Mas, ao mesmo tempo que é uma ousadia válida do grupo tentar incorporar novas referências ao seu repertório, essa mesma tentativa funciona como uma faca de dois gumes.

A partir do momento que conseguimos traçar mais paralelos entre Daughter e outras bandas, aquele interessante gênero único já não faz tanto sentido em Not To Disappear. Canções como Alone/With You e New Ways não possuem aquela ambientação misteriosa e refletem traços genéricos encontrados ao longo do trabalho. Digamos que o trio tenta sair excessivamente de sua zona de conforto, tentando incorporar estéticas que apagam o brilho que lhe rendeu o sucesso de outrora. Mas, de qualquer forma, não estamos lidando com um momento ruim na discografia do trio, apenas mais fraco, fato que podemos atribuir tanto à intensa qualidade do trabalho anterior, quanto à ambição demasiada deste segundo disco.

Not To Disappear parece ser um momento de transição e de reflexão da banda para com sua sonoridade. Há tentativas de expandir as referências, mas também há deslizes de criatividade que fazem com que certas composições fiquem em um campo genérico. Futuros lançamentos podem trazer conclusões mais acertivas quanto a isso. Por ora, ficamos com esta narrativa, que ainda trazem belas reflexões e alguns pontos altos.

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BOM PARA QUEM OUVE: Dido, London Grammar, The xx
ARTISTA: Daughter

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique