Resenhas

Bianca Casady & The C.i.A – Oscar Hocks

Disco solo de integrante de CocoRosie mostra sua melhores características enquanto compositora e produtora

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Ano: 2015
Selo: Atlas Chair/FANTASYmusic
# Faixas: 12
Estilos: Experimental, Freak Folk, Ambient
Duração: 44:05
Nota: 3.5
Produção: Bianca Casady

Bandas são, no geral, uma grande mistura de referências. Cada compositor traz para a mesa a sua visão e percepção de tudo aquilo que deseja exprimir nas faixas do projeto em questão. Neste quesito, CocoRosie levou as coisas ao extremo, à medida que seus trabalhos, desde La Maison de Mon Rêve até o mais recente Heartache City , sempre propuseram uma forma de bricolagem, na qual elementos das mais diversas origens se reúnem criando uma identidade sonora sólida, seja ela harmônica ou não. Agora, temos a chance de botar em evidência uma das partes desta dupla, isolando a contribuição de Bianca Casady para o conjunto e tentando penetrar ainda mais na realidade absurda, incompreendida e fascinante nas irmãs Casady.

Primeiramente, é preciso separar as coisas. É claro que, em algum momento durante a audição de Oscar Hocks, será inevitável tecer comparações com trabalhos de CocoRosie, seja pela característica voz de Bianca ou pelo aspecto experimental da obra, que flerta com estéticas Lo-Fi, mas também por seus truques de edição e uma sonorização bastante trabalhada. Entretanto, devemos encarar este disco como uma libertação para a compositora, no sentido de que aqui ela possui total controle sobre a produção.

A partir daí, fica mais claro entender porque o registro soa tão plural e experimental. Parece que Bianca tem uma tendencia natural pela desconstrução de suas composições, que ora possuem uma faceta mais clássica, envolta de pianos e belíssimos arranjos de corda, ora incorporam um aura quase cinematográfica de criar diálogos e sonoplastias para textos dramáticos e extremamente melancólicos.

Aliás, melancolia talvez seja a área que Bianca mais domine. Suas canções tem um ar que é de certa forma hostil, ao mesmo tempo que instigante. A palavra chave deste álbum é “perturbador”. A exploração de diferentes tipo de suspense, os timbres de diferentes origens se unindo e sua interpretação vocal faz com que Oscar Hocks seja totalmente imprevisível e aterrorizante. Como ela disse em uma entrevista para o site Pitchfork, este trabalho é uma oportunidade para explorar o que em CocoRosie precisava ser administrado: “…Não preciso ter medo de ser muito dark, assutadora, estranha…”. Dito e feito.

Bianca Casady é uma artista por excelência e seu disco solo apenas confirma isto. Um trabalho feito com um cuidado primordial e que reflete a personalidade pura da compositora: imprevisível e, guardas as devidas proporções, aterrorizante.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique