Resenhas

DIIV – Is The Is Are

Amparado por Sonic Youth, DIIV dá uma grande passo na carreira

Loading

Ano: 2016
Selo: Captured Tracks
# Faixas: 17
Estilos: Beach Punk, Dream Pop, Shoegaze
Duração: 63:20
Nota: 4.5
Produção: Zachary Cole Smith

Dopamine, o single escolhido para ilustrar o novo álbum de DIIV, parece de fato sintetizar a essência de Is The Is Are, ou seja, vê na dopamina (a grosso modo, substância que causa a sensação de prazer no cérebro, estimulada, entre outras coisas, pelo uso de entorpecentes) uma relação antagonista entre a busca de prazer e o sofrimento de Zachary Cole Smith contra o vício em heroína.

Is The Is Are desenvolve-se como uma longa viagem de 17 faixas que correspondem (embora de uma maneira anacrônica) à luta do protagonista Cole Smith. Nela, vemos a dimensão desse sofrimento de uma maneira humana: Smith não esconde nem glorifica o seu vício, mas está consciente dele e usa esse conflito a favor de sua música.

Vários aspectos deste tema central são discutidos. Desde a descrição de uma overdose em Bent (Roi’s Song) até a gratidão de Smith por sua (então) namorada Sky Ferreira pelo apoio emocional durante essa fase. Dentro destes diversos aspectos, por sua vez, por vezes o álbum decorre de maneira mais abstrata (como nos interlúdios (Fuck) instrumental e (Napa)) ou de modo bastante poético e tocante. Como um exemplo desta última faceta, podemos destacar a intersecção da própria Dopamine, na qual Smith propõe uma contagem regressiva como um símbolo da consciência de perder a vida (seja desperdiçando-a, seja sucumbindo com o vício) para as drogas. Ele diz: “would you give your 81st (60th, 45th, 34th…) year for a glimpse of heaven, now and here?”.

Musicalmente Is The Is Are parece apontar para o caminho certo. Enquanto evolui consideravelmente a proposta de seu álbum anterior ao amadurecer sua mixagem, apostar menos nos efeitos enquanto muleta (ainda há bastante reverb típico do Surf Punk aqui, mas numa carga consideravelmente menor), decantar seus riffs de guitarra (muito mais pegajosos do que antes) e importar-se mais com a estrutura das composições, de outro lado olha para o passado e busca influência em alguns expoentes musicais que admira (Nirvana, Elliott Smith e Sonic Youth) ao invés de perder-se no amplo cenário do Beach Punk atual (DIIV parece, finalmente, afastar-se de Beach Fossils e afins).

Contudo, a presença de Sonic Youth (embora, reitero, tenha feito muito bem para os timbres e texturas de DIIV, muito mais refinados do que antes) paira como um fantasma por Is The Is Are. O espírito de Bad Moon Rising, por exemplo, aquela aura pesada de mau presságio, parece onipresente. Além disso, fora as faixas que são explicitamente inspiradas na banda (ouça Mire (Grant’s Song), que usa a microfonia como recurso e também Blue Boredom, na qual Sky Ferreira faz uma imitação do estilo de Kim Gordon) parece ser possível encontrar, em Is The Is Are, referências de toda a fase Sonic Youth pós-Washing Machine.

Afinal, mesmo com 17 faixas, Is The Is Are não é um álbum tão extenso, decorre-se pouco mais de uma hora para ouví-lo na íntegra. Como quer que seja, dado seu tema intenso (para dizer o mínimo), fica-nos a sensação de excede um pouco de material, que poderia muito bem ter sido deixado de fora do álbum, mas que, por vaidade ou falta de critério, não foi.

De qualquer maneira, em Is The Is Are, Smith consegue sobressair a todos os seus conflitos pessoais e consagrar seu novo álbum como um troféu, de maneira muito tocante e expressiva.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Beach Fossils, Oberhofer, Sonic Youth
ARTISTA: DIIV

Autor:

é músico e escreve sobre arte